Primeiro ensaio Abarth 124 Spider: recuperar a tradição com ajuda japonesa
24/10/2016Misturar um carro japonês com uma mecânica italiana parece, à primeira vista, uma ideia votada ao fracasso. Porém, isso não é bem assim e o Abarth 124 Spider é prova que há coisas aparentemente incompatíveis que, juntas, dão grandes resultados.
A história de Carlo Abarth e do Fiat 124 Spider confundem-se, pois, o primeiro mostrou talento nas coisas da mecânica tendo inventado o “tuning”, o segundo nasceu da inspiração do primeiro e foi o carro que levou a marca do escorpião a entrar dentro do império dos Agnelli. Foi o caso típico do “se não o podes vender… compra-o!” exatamente aquilo que a Fiat fez.
O Fiat 124 Abarth será dos carros mais conhecidos da marca italiana devido ao envolvimento nos ralis e em Portugal não haverá um adepto da competição automóvel que não o conheça. O novo Abarth 124 Spider surge cinco dezenas de anos depois do modelo original. Não foi desenhado por Tom Tjaarda, mas sim pela equipa de estilo da Fiat Chrysler Automobiles, sobre o esboço original da equipa de estilo da Mazda liderada por Ikuo Maeda.
E aqui não deixamos de apontar ao elefante na sala: o Abarth 124 Spider é uma versão modificada do Mazda MX5, ou seja, não é um Fiat “verdadeiro”. Mas é um puro Abarth!
E digo isto porque os italianos fizeram bem mais que pespegar ao MX5 os logótipos da Abarth e umas jantes e mais algumas coisas. Alteraram o estilo, fizeram o carro maior e instalaram o seu próprio motor, neste caso um bloco de 1.4 litros a gasolina da família MultiAir, sobrealimentado que no Abarth 124 Spider debita 172 CV, ou seja, 124 CV/litro. Nada mau!
Para adicionar drama e emoção, tem um coletor de escape especial que termina numa panela com uma válvula que modifica o som, dando-lhe muito mais corpo e vibração. Tudo isto é controlado pelo botão Sport que além de mexer na voz do motor, aumenta a sensibilidade no acelerador, diminui a assistência da direção tornando-a mais pesada e aligeira a intervenção do ESP.
O chassis é o mesmo do MX5, mas a Abarth decidiu dar-lhe um toque italiano. Para isso trocou os amortecedores por unidades Bilstein, colocou molas mais duras e barras estabilizadoras diferentes. No próprio chassis, colocou uma barra em U perfurada que transforma a ligação da caixa ao veio de transmissão e diferencial numa unidade rígida. O diferencial é autoblocante e os travões são, sem surpresa, da Brembo. Os pneus são estreitos 205/45 17.
Um dos segredos do Abarth 124 Spider reside no peso pluma de 1060 quilogramas e no facto do ESP se desligar. Mesmo! Imaginem: carro leve com potência mais que suficiente para desfrutar do diferencial autoblocante… Diversão garantida! E depois, a Abarth não falhou nenhum item do Fiat 124 Abarth de 1966: o capot pintado de preto mate com as bossas do modelo original estilizadas (os carros de competição usavam esta cor para que os pilotos não se encadeassem com o sol a bater na pintura) e a tampa da mala da mesma cor. Até a forma dos faróis dianteiros e dos farolins traseiros, lembra o 124 Abarth.
No interior, a evocação do passado trava a fundo e encontramos, sem grandes diferenças, o interior do MX5. Até o volante é o mesmo! O conta rotações é vermelho, tudo está revestido a Alcantara ou a pele e pespontado a vermelho e os pedais são em alumínio.
Na casa das máquinas, a improvável combinação de um carro japonês com uma mecânica italiana… funciona! O bloco Fiat é ligeiramente preguiçoso a baixa rotação, mas assim que a agulha tocas as 3 mil rotações, parece que é injetada cafeína nas veias do motor e até chegar às 6500 rotações, é um foguete! Com mais potência e, sobretudo, mais binário que o motor do Fiat 124 Spider, o Abarth é mais rápido. Parece, mesmo, que o motor é diferente. E chegar dos 0-100 km/h em 6,8 segundos é um excelente cartão de visita. Mesmo que isso não seja o mais importante para a Abarth.
Infelizmente o ensaio foi curto, com chuva e ao volante de um carro de caixa automática, mas deu para perceber que o Abarth 124 Spider é um carro… especial.
Diversão ao volante significa curvas e o Abarth 124 Spider adora curvas, valendo-se da direção direta e precisa, dispensando gestos nervosos. A carroçaria adorna um pouco, mas dentro de limites aceitáveis, suportando perfeitamente mudanças de direção violentas. O diferencial autoblocante ajuda a controlar as coisas, pelo que é simples brincar com o Abarth. Carregando no botão Sport e com maior liberdade do ESP, podemos abusar um pouco. Desligando tudo, é preciso ter algum atrevimento, particularmente em piso molhado, mas o carro avisa quando começa a deslizar e é facilmente controlável.
Veredicto
O Abarth 124 Spider não é tão “hardcore” como o original, mas é divertido, seguro e, sobretudo, muito bonito. É um regalo para os olhos e, sobretudo, fez-me viajar até aos dias do Rali de Portugal e á paixão não contida pelo Fiat 124 Abarth. Depois, graças ao motor turbo, temos sempre binário para nos “safar” de alguma situação menos clara, custa menos ultrapassar pois ao contrário do motor do MX5, temos sempre binário disponível. É um carro que se pode usar de forma relaxada ou acelerada, num passeio pela marginal ou numa corrida pela serra, numa gala ou num “track day”. Não é barato, mas tenho de reconhecer que é um belo trabalho da Abarth e um carro que merece ser levado muito a sério!
José Manuel Costa
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