Primeiro ensaio – Citroen C3 1.2 Puretech 82: a nova vida do “double chevron”

28/10/2016 0 Por Autoblogue
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Porque quer ser uma marca icónica. Porque quer regressar aos tempos áureos que viveu suportados na inovação e no arriscar onde outros nem admitiam tocar. Porque mantendo o estatuto de marca generalista, quer conquistar novos clientes fidelizando os atuais e os do passado. Por mais uma enorme série de razões, o Citroen C3 é o primeiro do resto da vida da casa do “Double Chevron”. Para cumprir esse desígnio, tenho na minha frente um carro muito giro que se destaca da multidão do segmento, com forte conectividade – uma webcam integrada permite partilhar fotos de viagem com as redes sociais – e conforto “à la Citroen”.

O novo C3 está ligado ao anterior pois utiliza a mesma plataforma, naturalmente revista no que toca à proteção de peões e dos ocupantes. Isso levou a reforços estruturais que adicionaram peso, escovado pelos técnicos franceses nas áreas onde isso foi possível. Contas feitas, o C3 ficou com, sensivelmente, o mesmo peso do anterior. O que é um excelente trabalho feito pelos franceses.

Com esta decisão, a Citroen abdicou de perseguir um dos líderes do segmento, o Ford Fiesta, pois no que toca ao comportamento seria impossível fazer jogo igual. Por isso, nada melhor que regressar às origens: curso de suspensão alongado, amortecedores e molas mais suaves e foco colocado no conforto. Um pouco à imagem do que sucede com a “inspiração” para este novo C3, o C4 Cactus.

Naturalmente que num carro novo, a tecnologia tem de ser de ponta e oferecer um “gadget” mais ou menos desnecessário. No caso da Citroen… tem utilidade e… não tem. No primeiro caso, o ConnectedCam Citroen é muito útil pois grava os 30 segundos antes e os 30 segundos depois de um acidente, sendo a primeira web câmara do mundo instalada num automóvel. Obviamente que tendo uma webcam no carro com ligação à internet, o Facebook e o Twitter estão ali agachados à espera de nos viciarem com os momentos registados ao longo da viagem. Basta descarregar a aplicação e… tirar fotos ou fazer vídeos e partilhar nas redes com amigos e desconhecidos.

Copyright Thibaud Chevalier @ Continental Productions

O interior, como referi acima, é muito Cactus e para quem é alto ou tem perna longa, o C3 será um dos carros com a melhor posição de condução que conheço. Pena que para os outros, o volante esteja una nadinha deslocado do tablier, embora tudo se consiga resolver com as regulações de banco e coluna de direção. Os bancos são amplos, com pouco suporte lateral mas são confortáveis devido à espuma de dupla densidade. Atrás, as coisas são ligeiramente diferentes e o C3 não faz melhor que os rivais com espaço à justa para as pernas e um nada menos para a cabeça. A forma do tejadilho prejudica algo a habitabilidade nesse particular, embora só quem tenha mais de 1,80 metros é que vai sentir-se ligeiramente acanhado. A bagageira com 300 litros de capacidade está num bom nível.

O nível da qualidade de materiais e construção subiu, mas ainda há naquele interior muito plástico reciclado sendo que em alguns locais mais escondidos parece mesmo plástico de má qualidade. Compensa a Citroen com um desenho agradável, quatro opções de ambientes e detalhes como as pegas das portas à imagem das malas de viagem ou o painel de instrumentos de belo desenho. Não há muitos indicadores, botões ou confusões, tudo é simples e intuitivo numa ideia de simplicidade muito bem pensada.

Depois pode mesclar três cores de tejadilho com nove cores diferentes para a carroçaria e mais acessórios, tendo à mão 36 configurações diferentes que depois acabam por se multiplicar. Pode optar pelo C3 com ou sem Airbumps, mesclar as cores de tejadilho e da carroçaria – sendo que os pilares dianteiros serão sempre negros – e dos ambientes, além das jantes de liga leve. Palavra ainda para o sistema de info-entretenimento que é, agora, muito mais intuitivo e fácil de utilizar. Já o sistema de navegação, opcional, continua algo azougado e com erros pouco aceitáveis. Conselho prático: não gaste dinheiro no sistema de navegação da Citroen, fique-se pelo Apple CarPlay ou pelo Android Auto e use a navegação do seu telefone. Dizer que o ecrã sensível ao toque tem 7 polegadas.

Copyright Thibaud Chevalier @ Continental Productions

Com um preço de 14.350 euros com o nível Feel (intermédio, a versão de topo Shine custa 16.450 euros), o C3 1.2 Puretech 82 será o modelo mais procurado até porque as versões diesel vivem bem acima dos 18 mil euros. Foi exatamente a versão de 82 CV com o equipamento Feel que ensaiei.

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Confesso que depois do vídeo do C2 WRC fiquei motivado e procurei pontes de ligação entre o meu plebeu 1.2 Puretech e o poderoso carro de ralis. Parece que a Citroen irá fazer um C3 desportivo, mas este que ensaiei está nos antípodas disso. Se em cidade tudo se passa sem dificuldades, assim que chegamos a vias rápidas ou autoestradas, a conversa é outra. Como não tem turbo como a variante de 110 CV, o binário só chega até nós a partir das 3 mil rotações o que nos força a carregar com vigor no acelerador e a usar a caixa de apenas 5 velocidades para conseguir ter andamento suficiente. Vale o facto do três cilindros do grupo PSA não ser barulhento e ter sonoridade que até nem desagrada escutar.

Pelo menos enquanto conseguimos rolar em quinta velocidade, pois se temos de andar à procura da melhor relação para que o movimento seja fluido e natural, o motor começa a andar lá em cima e o urlo irrita ligeiramente. Apesar disso, tenho claro no meu espírito que o C3 é um carro refinado e agradável de utilizar.

Copyright Thibaud Chevalier @ Continental Productions

Como disse acima, em cidade o C3 movimenta-se facilmente, aproveitando o bom raio de viragem e as contidas dimensões (3,99 metros). A baixa velocidade, a direção é leve e ajuda o condutor, surgindo algumas dúvidas quando a estrada começa a apresentar buracos ou lombas. Mesmo assim, há refinamento e o carro não se despenha contra as lombas, com um nível de conforto assinalável. O curso da suspensão aumentado, os amortecedores e molas suavizados, pelo que o conforto é elevado. E o comportamento divertido, especialmente nas zonas de maior velocidade, pois a carroçaria adorna bastante e com os bancos com pouco apoio lateral, dei por mim agarrado ao volante para evitar cair no colo do passageiro! Apesar disso, o C3 consegue desenvencilhar-se do percurso sinuoso com nota positiva, sendo o reverso da medalha a falta de sensibilidade na direção. Ainda assim, não compromete.

Cumpridos os primeiros quilómetros ao volante do Citroen C3 consegui arrumar algumas questões que me assaltavam depois de ter estado presente na apresentação estática do modelo. Primeiro, confirma-se que o carro é muito giro e foge aos ditames atuais dos utilitários, destacando-se da multidão. Segundo, o interior é feito à imagem do C4 Picasso, o que significa bom gosto na decoração e na forma de estar dentro do carro.

Copyright Thibaud Chevalier @ Continental Productions

Veredicto

O Citroen C3 não está destinado a ser líder do segmento, pois falta-lhe a agressividade e competência do Ford Fiesta em curva, o espaço interior do Skoda Fabia e não tem o requinte e qualidade do habitáculo do VW Polo. Mas isso são excelentes notícias! Veja, tem um carro que é diferente de todos os outros, que tem boas mecânicas e elevado nível de conectividade. Não faltam qualidades que o podem seduzir facilmente – confortável, competente em curva sem ser desportivo e diferente – embora tenha de ser brutalmente honesto consigo: arranje lá mais 4 mil euros e compre o C3 com motor 1.2 Puretech de 110 CV. Fica com um carro ainda melhor e muito bem equipado. Ah… e continua ao volante de um carro muito giro e diferente dos outros!

José Manuel Costa

Citroen C3 1.2 Pueretech FeelPreço 14.350€ Motor 4 cil. em linha gasolina; 1199 c.c.; Potência 82 CV/5750 rpm; Binário 118 Nm/2750 rpm; Transmissão dianteira, caixa manual de 5 vel.; Suspensão Independente McPherson fr/eixo de torção tr.; Travagem Discos vent. fr/tambores tr; Peso 1031 kgs; Mala 300 litros; Depósito 45; Vel. Máx 173km/h; Acel. 0-100 km/h 12,8 seg.; Consumo médio 5,1 l/100 km; Emissões CO2 108 gr/km

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