Primeiro ensaio Ford Kuga Vignale 2.0 180 Powershift 4WD: não chega para o topo
03/11/2016O topo de gama do SUV da marca americana não deixa a tradição Ford por mãos alheias e oferece um comportamento interessante, mas para ombrear com os modelos das alemãs BMW, Audi e Mercedes é preciso um pouco mais que a denominação Vignale. O excelente comportamento, o enriquecimento do equipamento e oi esforço para oferecer uma sensação Premium não chegam opara a falta de requinte que o Kuga exibe e que só poderá ser ultrapassado na próxima geração.
O Kuga é uma espécie de retaliação da Ford pela invasão do seu quintal, sendo esta versão Vignale a tentativa de mostrar aos alemães Premium que há vida além da trindade teutónica Audi, BMW e Mercedes. Para isso ofereceu-lhe um lugar na gama Vignale (apesar da decisão ter chegado tarde e o modelo não ter alterações técnicas específicas como sucede com o Mondeo ou com o S-Max) e o motor 2.0 TDCI com 180 CV a que juntou uma caixa automática de dupla embraiagem e tração integral permanente.
Quer saber mais sobre o Ford Kuga Vignale? Visite o sítio da Ford clicando aqui!
Com um nível de equipamento bem recheado e maior atenção aos pormenores e à qualidade de certos materiais, o Ford Kuga parece satisfazer todos os requisitos que a mais recente paixão dos europeus pelos SUV exige. O problema é que é muito mais simples dizê-lo que fazê-lo e enfrentar modelos como o Audi Q3, BMW X1, Volkswagen Tiguan, Seat Ateca ou o Range Rover Evoque é duro.
E que tal configurar o seu Ford Kuga? Basta clicar aqui!
Olhemos então para as novidades
A variante Vignale recebe o mesmo tratamento do renovado Kuga. Ou seja, uma frente redesenhada com novos faróis, uma grelha diferente (que no Vignale também tem desenho específico) com clara aproximação ao Edge, enquanto na traseira estão lá novos farolins. No interior o novo Sync3, sistema de info entretenimento, destaca-se enquanto nas mecânicas, a maior novidade do Kuga é o bloco 1.5 TDCI 120 CV. Que não tive a oportunidade de experimentar, já que a etapa que cumpri na “Kugadventure”, entre Varsóvia, na Polónia, e Vilnius, na Lituânia, dava entrada na fase mais a norte desta expedição e foi necessário deixar os Kuga 1.5 TDCI com tração dianteira por troca com estes Kuga 2.0 TDCI Vignale. Mas também como não há no VIgnale a opção 1.5 TDCI, portanto…
Quanto ao Sync3, provavelmente dos melhores sistemas de info entretenimento disponível no mercado, deixou-me com sentimentos mistos. O sistema de navegação é excelente, as ligações com o nosso smartphone são asseguradas pelo Apple CarPlay e pelo Android Auto, tudo através de um excelente ecrã de 8 polegadas. Porém, está menos bem quando queremos ampliar ou mudar de página ou encontrar mais opções, continuando algo limitado em termos de ligações ao exterior.
O que oferece o Kuga Vignale
A denominação Vignale oferece uma dose bem reforçada de equipamento, revestimento do tablier em pele, bancos em pele Windsor, jantes de liga leve maiores e mais algumas ofertas e facilidades que, pensa a Ford, fazem do Kuga uma alternativa perfeitamente credível face aos rivais Premium. Mecanicamente e debaixo do manto, tudo é igual aos restantes Kuga. A maior diferença é que só pode escolher entre duas versões do motor 2.0 TDCI (150 ou 180 CV) e um bloco 1.5 litros turbo a gasolina (180 CV), com caixa manual ou automática. Já agora dizer que no interior o Kuga Vignale tem um ecrã de 8 polegadas sensível ao toque, abertura elétrica do portão traseiro e assistência ao estacionamento bem como assistente dos máximos. Ah! e como a Ford faz questão de lembrar sempre que estamos na presença de um Vignale, cada modelo passa por uma centena de controlos de qualidade extra durante a produção face a um Kuga “normal”.
Em estrada, o Ford Kuga não desaponta. Nunca o fez, pois sempre foi dos melhores no que toca ao comportamento e após um pouco mais de 300 quilómetros, sai do carro sem o mínimo problema ou queixa. Também é verdade que as estradas polacas são mesas de bilhar, mas mesmo quando arrisquei levar o Kuga para fora de estrada em alguns caminhos que fariam corar de inveja terrenos alentejanos das nossas provas de TT, o conforto sempre se mostrou em excelente nível.
A direção mostra sensibilidade sendo direta e contribuinte clara para o bom comportamento. O controlo dos movimentos da carroçaria e elevados níveis de aderência, oferecem confiança para elevar o ritmo sem estar, permanentemente, a pensar quando é que o “bicho” se vira a nós e vamos parar ao cenário.
Nem tudo são qualidades…
Porém, há um ou outro problema com o Ford Kuga Vignale. E não, não estou a falar do preço, apesar de 48 mil euros não serem lá muito simpáticos. Comecemos pelo motor. O bloco 2.0 TDCI 180 CV tem dificuldades na comparação com os modelos Premium, pois é mais barulhento, especialmente, nas rotações mais elevadas e não rima de forma perfeita com a caixa de velocidades de dupla embraiagem. Esta, por sua vez, é lenta quando carregamos a fundo no acelerador. A seu favor o facto de funcionar bem na maioria das situações, mesmo no modo manual. Seria de esperar que com 180 CV, o Kuga fosse capaz de rivalizar com os seus rivais e a sensação é mesmo essa, acabando desmentida pelo cronómetro que indica um défice superior a dois segundos para a média dos rivais.
Depois, se é verdade que há muita pele a revestir o habitáculo, também é verdade que continua a existir muito plástico de menor valia que acaba por nos desiludir depois de ver os bancos e o tablier forrados em pele Windsor. É verdade que a Ford aposta mais na qualidade de construção que dos materiais, mas um Vignale merecia o esforço de colocar outros plásticos pelo menos à vista do utilizador. Outro problema reside na habitabilidade, que poderia ser melhor, e no revestimento do banco traseiro. Se na frente a pele é espessa e ajuda ao conforto, o banco traseiro não é igual e num carro de quase 50 mil euros não é muito admissível.
Veredicto
Não basta ao Kuga chamar-se Vignale, estar forrado de equipamento, oferecer o melhor comportamento do segmento e exibir pele Windsor nos bancos. Falta ao Kuga Vignale o requinte dos Premium, piorando muito as coisas quando o modelo é atirado para fora de pé pelos impostos. Decididamente, esta versão Vignale não é uma boa opção, até porque não se sabe quais os valores de retoma, e mais algumas coisas. O Ford Kuga despido da farda Vignale, com o motor 1.5 litros TDCI e menos equipamento, mas de tração dianteira, afigura-se como um melhor negócio e com competência para lutar com os rivais, mesmo que seja uma luta inevitavelmente desigual…
José Manuel Costa
Ford Kuga Vignale 2.0 TDCI 180 Powershift 4WD
Preço 49.000€; Motor 4 cil. em linha turbodiesel; 1997 c.c.; Potência 180 CV/3500 rpm; Binário 400 Nm/2000-2500 rpm; Transmissão Integral permanente, caixa automática dupla embraiagem de 6 vel.; Suspensão Independente McPherson fr/independente multibraços tr.; Travagem Discos vent. fr/discos tr; Peso 1716 kgs; Mala 456/1603 litros; Depósito nd; Vel. Máx 200 km/h; Acel. 0-100 km/h 10,0 seg.; Consumo médio 5,2 l/100 km; Emissões CO2 134 gr/km