Primeiro ensaio Toyota C-HR: o momento de viragem
17/11/2016Finalmente! Finalmente a Toyota saiu da caixa e pegou numa ideia meia maluca e permitiu que muita da maluqueira do conceito chegasse ao modelo de produção em série, o que eu acho uma belíssima ideia. O C-HR desde que apareceu como protótipo deixou-me impressionado e hoje, como modelo final à venda já em Portugal, continua a impressionar e a provocar impacto. Resta saber se a Toyota esteve à altura do impacto que o pequeno C-HR causa no trânsito.
Se pensa que o Toyota C-HR (chama-se assim pois o conceito denomina-se Coupe High Ride) é rival do Nissan Juke, pense outra vez, pois o alvo é mais acima, o Qashqai. Isto porque o C-HR tem 4,36 metros de comprimento, 1,79 metros de largura e 1,55 metros de altura. Ou seja, contas feitas, é mais pequeno que o RAV4, mas maior que o Juke e semelhante ao Qashqai. Familiar? Bom, mais ou menos pois o estilo do C-HR afunila um pouco a traseira e o espaço no banco traseiro, especialmente em largura, não é abundante.
Um novo começo
Ninguém coloca em dúvida a qualidade, fiabilidade e durabilidade dos Toyota, mas exceção feita ao GT86 a um ou outro Land Cruiser e alguns carros do passado, são todos um bocadinho aborrecidos. A Toyota reconhece isso e quer mudar essa ideia tendo como primeira alpondra para essa missão este C-HR.
E a verdade é que tudo é novo neste modelo e olhando para ele, tocando-o, utilizando-o percebe-se o compromisso da Toyota em mudar o rumo dos acontecimentos com um carro cujo desenho seduz e impressiona, um interior com qualidade reforçada e um comportamento de primeira água. E não é apenas bazófia, acreditem!
Estilo de quebrar a respiração
Começa logo pelo estilo do C-HR que nos esfrega na cara uma dianteira maciça com faróis rasgados que vão quase até ao pilar A e um para choques com linhas futuristas. Na lateral, cavas das rodas muito musculadas, mas do mais belo efeito, complementadas pelas embaladeiras pintadas de negro e um tejadilho a mesma cor, que estreia uma lateral cuja superfície vidrada já é, também estreita. A traseira tem um óculo quase horizontal, os pilares C enormes e os farolins traseiros são o menos original do carro, pois dão muito ares de Honda Civic. Claro que tudo fica mais personalizado devido às cavas das rodas que “empurram” para cima os farolins. Ah! e não esquecer as formas de diamante que se unem em vários pontos da carroçaria. Pode parecer estranho, mas a verdade é que pela primeira vez um estilo Toyota é coerente de um lado ao outro do carro!
Abrindo a porta nova surpresa pois o habitual esquema cinzento, preto, plásticos duros e desenho aborrecido, dá lugar a formas suaves, materiais de grande qualidade e ergonomia sensata. A posição de condução continua meio desastrada, com o volante em cima dos joelhos, mas tudo o resto me pareceu muito bem. E pormenor que mostra como o pragmatismo nipónico está a dar lugar aos gostos refinados dos europeus, olhem na foto do interior para o grupo de comandos colocados por baixo do ecrã do sistema multimédia. Ao invés de ir à caixa de peças de outros modelos, fizeram um conjunto específico para o C-HR e com a já referida forma de diamante. Opção que terá custado algum dinheiro, mas mostra o referido compromisso da Toyota em mudar.
O espaço interior não é imenso e quem segue atrás está quase enclausurado devido à forma da carroçaria, não conseguindo ver quase nada pelas janelas. Bom, mau? Não sei, num Mercedes Maybach ou num Rolls Royce quem segue atrás sente o mesmo e ninguém se queixa…. Será porque nestes é privacidade, mas no Toyota acham que foi maldade?
Conectividade existe a bordo do C-HR, mas estranhamente não há Mirror Link, ou seja, não pode replicar o seu telefone no sistema deste Toyota. Mas por outro lado tem travagem autónoma de emergência, cruise control com radar, alerta para a transposição involuntária de faixa, relegando para os opcionais a monitorização do ângulo morto, o sistema de navegação e um sistema de som JBL com 576 watts.
Bom comportamento e conforto
O C-HR é realmente um carro muito importante para a Toyota, pois o seu calendário foi atrasado para poder utilizar a nova plataforma TNGA (Toyota New Global Architecture), a mesma do Prius. Elogiada por todos a propósito de um carro como o Prius, a TNG surge aqui com algumas alterações. Menor distância entre eixos, reforço de alguns pontos de soldadura e acrescento de outros, mantendo, apesar do tejadilho alto, um muito baixo centro de gravidade, mas agora com rigidez adicional. Exibe, também, um eixo traseiro multibraços onde os técnicos da Toyota utilizaram ligações rígidas como na competição ao invés de casquilhos. Resultado de tudo isto?
Bom, o C-HR nem parece um crossover, pois a carroçaria mexe-se muito pouco, aceita mudar de direção com rapidez, não se perturba com as irregularidades da estrada e é muito fácil de colocar na trajetória escolhida. Nos limites não perde aderência na frente de forma descontrolada, exigindo apenas ligeiro acerto com o acelerador ou com a direção para não forçar a frente. E acreditem que até permite alguma deriva do eixo traseiro sem colocar minimamente em sobressalto o condutor.
Infelizmente, as mecânicas não colocam em sobressalto o excelente chassis do C-HR. Primeiro experimentei o C_HR com o motor 1.2 litros a gasolina sobrealimentado com 115 CV. O Híbrido fica para depois. E não, não há versão a gasóleo, graças a deus! Só este bloco ou a versão híbrida.
No Auris, este motor faz milagres, mas no C-HR nem por isso, seja pelo maior peso, seja pela caixa de velocidades, seja lá pelo que for. Não deixa de ser uma jóia tecnológica que funciona com ciclo de quatro tempos normal, mas também com o ciclo Atkinson com carga ligeira no acelerador, tem quatro cilindros e a Toyota diz que gasta menos e polui menos que os rivais de três cilindros devido a essa polivalência. Talvez, mas os 7,1 l/100 km acusados no computado de bordo não foram muito diferentes dos rivais…
O motor só começa a funcionar a partir das 2500 rpm e vai em crescendo até às 5500 rpm, altura em que entra em ação o limitador. Deu a sensação que o motor tem algo mais acima deste regime, mas com o limitador fica só a impressão. A caixa manual é muito agradável de utilizar, rima razoavelmente com o motor, mas o conjunto está longe de provocar o chassis. Em Portugal não há essa possibilidade (e ainda bem!), mas C-HR está disponível com tração integral, mas essa opção obriga a levar para casa a transmissão CVT.
Veredicto
O C-HR é um carro apetecível, giro, com um excelente comportamento, bom equipamento e um preço muito interessante pois equipado com o bloco a gasolina 1.2 litros não vai além dos 26.050 euros com a versão de topo equipada com o pacote Style, fica por 27.550 euros. Um excelente preço para um carro que vai fazer rodar cabeças e faze-lo destacar-se da multidão. Desta feita, a Toyota acertou e se o futuro passa por aqui, então venham de lá mais modelos que o futuro só pode ser risonho.
José Manuel Costa
Toyota C-HR 1.2 Comfort + Pack Style
Preço 27.550€; Motor 4 cil. em linha turbo; 1197 c.c.; Potência 116 CV/5200 rpm; Binário 185 Nm/1500-4000 rpm; Transmissão Dianteira, caixa manual de 6 vel.; Suspensão Independente McPherson fr/independente multibraços tr.; Travagem Discos vent. fr/discos tr; Peso 1320 kgs; Mala 377 litros; Depósito 43; Vel. Máx 190 km/h; Acel. 0-100 km/h 10,9 seg.; Consumo médio 6,0 l/100 km; Emissões CO2 126 gr/km