
Ensaio Land Rover Defender P400: pode chocar os puristas… mas é um belo automóvel!
15/12/2020
O Defender não podia continuar a ser vendido porque não estava pensado para ser seguro ou para nos mimar com equipamento de conforto ou conectividade. Era um moiro de trabalho que se tornou um ícone. Porém, com pés de barro. A tarefa da Land Rover não foi fácil, mas tenho de ser honesto: o trabalho foi muito bem feito e o novo Defender até pode chocar os puristas, mas é um extraordinário carro!
- A Favor – Refinamento, Qualidade, Comportamento global
- Contra – Preço

Como é o novo Land Rover Defender?
Sinceramente, tive sérias dúvidas que a Land Rover conseguisse cumprir um desafio que mais parecia a escalada ao Evereste. Substituir o Defender era uma missão que colocou uma guilhotina sempre pronta a cortar cabeças em cima dos responsáveis da Land Rover.
Não foi por acaso que a Land Rover levou tanto tempo para parir o novo Defender! Os corajosos responsáveis pelo projeto tinham de satisfazer os tradicionalistas e fazer rimar o tradicional comportamento de excelência fora de estrada com moderna conectividade e o conforto e tecnologia dos tempos modernos.
Ficou evidente que conciliar as exigências atuais com os desejos dos novos clientes e os suspiros dos tradicionalistas, foi uma verdadeira quadratura do círculo.
Aplauso tem de ser oferecido aos homens da Land Rover, pois conseguiram fazer o quase impossível e substituir um ícone.
Um ícone forjado pelas suas capacidades fora de estrada, pela sua resistência à prova de bala e pelas idiossincrasias como a falta de conceito de ergonomia e incapacidade de receber as mais recentes atualizações de segurança.
O Defender era um jipe adorado por todos e muitos pagaram muito para comprarem um 110 ou um 90, na mesma medida em que justificar a sua compra era uma tarefa absolutamente impossível. O Defender era um instrumento de trabalho que foi sendo adaptado a uma utilização de lazer. Estava pensado para sobreviver no mais hostil dos ambientes e por isso, mesmo na versão de lazer, era demasiado bruto e desconfortável para ser utilizado quotidianamente.

O estilo está muito diferente?
Da noite para o dia! Mas é curioso como um desenho que não me lembra nada o original, acaba por imediatamente me levar até aos muitos, mesmo muitos quilómetros feitos ao volante do Defender original.
Claro que podemos encontrar pontos de contacto, na superfície vidrada que recorda vagamente o Defender, os faróis, a forma como estão desenhados os farolins traseiros. Mas o que fica na retina é uma interpretação moderna do carro que é brilhante.
O equilíbrio entre as formas quadradas e arredondadas é perfeito, as quatro rodas estão colocadas nos extremos da carroçaria, com avanços curtos que nos deixam tranquilos quando exigimos muito fora de estrada.

E tecnicamente, está, também, diferente?
Uma vez mais… da noite para o dia! O Defender deixou de ter eixos rígidos e carroçaria aparafusada ao chassis, sendo um monobloco imenso que tem uma enorme rigidez, o mesmo se passando com as suspensões. O Defender tem suspensões pneumáticas, partilhando conceitos com o original, mas apenas no que toca á ideia de robustez e eficácia.
A plataforma do Defender é feita em alumínio misturado com aço de alta qualidade e é tão rígida e resistente – tal como a suspensão – que a equipa de testes conduziu durante horas o carro a 40 km/h sobre passeios de cimento com 25 cm de altura!
O Land Rover Defender 110, a versão longa de cinco lugares – tem um ângulo de entrada de 38 graus e 40 graus de ângulo de saída, cifras excelentes que fazem jus ao modelo original.
Sobe pendentes de 45 graus e desce rampas de 47 graus, sendo capaz de passar cursos de água até 90 cm e todos os componentes elétricos foram testados e cumprem a norma IP67, ou seja, podem estar submersos 1 metro durante mais de uma hora sem sofrerem danos.
Para vincar ainda mais a diferença para o antigo Defender, este Defender tem toda uma panóplia de tecnologia impressionante, oferece “head up display”, ajudas á condução, incluindo as câmaras que estão por baixo do carro e que tornam a chapa, motor e chassis “invisíveis”, permitindo perceber onde estamos a circular, enfim, um carro que não tem rigorosamente nada a ver com o original. E ainda bem!

Como é o interior do Defender?
Quem conhece o Defender original, ao entrar no Defender sentir-se-á numa cápsula do tempo. É um habitáculo muito diferente, com muito espaço e qualidade superior. Depois, joga com detalhes como o banco que pode ser instalado dentro do porta luvas e aumenta a lotação para seis ou para oito pessoas.
Algo que é interessante, oferecendo uma opção ao Discovery. Espaços para arrumação são mais que muitos e com grandes capacidades, sendo que o porta bagagens, na versão de 5 lugares é uma verdadeira caverna.
O estilo, um pouco industrial, é muito diferente do que se poderia esperar de um carro cujo foco é andar fora de estrada. O Defender tem requinte, qualidade e depois tem os detalhes que o ligam ao original, por exemplo, a possibilidade de lavar o chão do carro, o espaço em frente ao pendura é limpo, a consola central é rígida e os revestimentos estruturais das portas. Por outro lado, os materiais são de qualidade e conseguem servir a oportunidade de calçar as botas cardadas ou o salto alto sem que se notem as diferenças.
A mecânica é atual ou nem por isso?
O Defender utiliza uma mecânica de topo, nova e amiga do ambiente. Falo de um bloco de seis cilindros com 4.0 litros e hibridização suave de 48 volts, mas a gasolina. Um motor com 400 CV e 550 Nm de binário, cheio de força e ânimo, mas que tem como reverso da medalha consumos elevados.
A Land Rover reclama entre 11,2 e 12,1 l/100 km em ciclo combinado debaixo do protocolo WLTP e emissões de 255 gr/km de CO2. Porém, em utilização, não consegui baixar dos 13 litros, um valor pouco simpático para um motor com hibridização, mesmo suave. É verdade que tem de “puxar” mais de 2,2 toneladas, mas é um nadinha exagerado.
O Defender só existe com caixa automática e ainda bem, porque se comprar o opcional banco que nasce do porta luvas da consola central, seria uma confusão alcançar a alavanca da caixa… especialmente se lá se sentasse uma menina…
Analógico era o nome do meio do Defender… agora é digital!
O Defender era um carro… analógico, o novo Defender é um automóvel absolutamente digital que está sempre conectado e sempre atualizado
A capacidade de processamento é fantástica e o sistema tem um modem de 100 mb que permite descarregar software durante a noite, com o carro parado e em segundo plano, sendo ativado quando se liga a ignição. Fica aqui um número que diz quase tudo: o novo Defender tem 85 unidades de comando central que são capaz de lidar com 21 mil mensagens de rede ao mesmo tempo! Pumba!
Para andar fora de estrada, a Land Rover decidiu combinar as câmaras viradas para a frente, para trás e nos espelhos para fornecer uma imagem do que está em redor do carro, permitindo que todo o tipo de manobras esteja controlado.
O mais curioso é o sistema que junta a tudo aquilo umas câmaras debaixo do carro que permitem transformar visível tudo o que é tapado pelo motor e pelo capô. Ou seja, o carro fica transparente! Wow!

E como é o Defender em estrada?
O novo Defender é supremo em fora de estrada, mas não parece, nem no aspeto, nem no comportamento em estrada.
Oiu seja, ao contrário do seu antecessor, não há folgas na direção, não há o bambolear das suspensões, tudo é controlado e feito com um refinamento espantoso. O Defender tem tudo no local certo, não há oscilações dos eixos, não há o ranger do chassis, impressionante!
Evidentemente que tem suspensões com curso longo, mas isso não impede que seja ágil, contribuindo para um elevado nível de conforto, deixando de lado a mania que a maioria dos engenheiros tem de oferecer aos SUV suspensões com pouco curso e duras, temendo a perda do controlo do movimento da carroçaria. Com este acerto, o Defender absorve quase tudo, o requinte e refinamento são plenos e andar em piso liso ou degradado é, praticamente, a mesma coisa. Impressionante!
Claro que se aumentamos a velocidade para valores muito acima do normal o chassis tem mais dificuldade em controlar os movimentos da carroçaria, Mesmo assim, só perturbei o Defender com um evidente abuso.
Se em estrada parece um normal SUV Premium, quando deixamos o alcatrão para trás, o Defender transforma-se num carro totalmente diferente!
Valas, regueiras, subidas, descidas, cruzamentos de eixos, riachos, enfim, tudo o que possa pensar, o Defender encara tudo com ligeireza.
O chassis, as suspensões, enfim, tudo o que faz parte das definições do Defender funcionam de uma forma harmoniosa sem hesitações e sem queixumes, com a eletrónica a ajudar de forma competente. Para andar em estrada, o Defender consegue adaptar-se de forma perfeita, fora de estrada é ainda melhor e honra de forma perfeita o ícone.
Claro que o Defender não é um automóvel perfeito e por isso há aqui e ali umas brechas: a insonorização não é perfeita, a forma do Defender prejudica um pouco a performance, os ruídos aerodinâmicos sentem-se, o peso cobra fatura na travagem e nas zonas mais encadeadas e sinuosas, o Defender não é, de todo, um Range Rover Sport SVR.
A minha opinião sobre o Defender
O Defender honra o Defender! É um carro muito agradável de utilizar e de conduzir, eficaz, confortável e de qualidade. Irá à uma gala de “smoking”, vestido de noite, sapatos de verniz e de salto alto com a mesma elegância e competência com que calça botas cardadas e dispara pelo meio do campo. É um carro absurdamente caro, pois fica acima dos 107 mil euros. Porém… adorei o Defender! Vale este dinheiro todo? Como não o posso comprar… não sei, acho que não. Mas, se pudesse… já cá morava um!
Ficha técnica
Motor
Tipo: 6 cilindros em linha com injeção direta e turbo
Cilindrada (cm3): 2996
Diâmetro x Curso (mm): 83 x 92,29
Taxa de Compressão: 10,5
Potência máxima (CV/rpm): 400/5500
Binário máximo (Nm/rpm): 550/2000 – 5000
Transmissão: integral permanente, caixa automática de 8 velocidades
Direção: Pinhão e cremalheira assistida eletricamente
Suspensão (ft/tr): independente duplo triângulo/independente multibraços
Travões (fr/tr): discos ventilados
Prestações e consumos
Aceleração 0-100 km/h (s): 6,1
Velocidade máxima (km/h): 208
Consumos extra-urb./urbano/misto (l/100 km): nd / nd / 11.2 – 12,8 (WLTP)
Emissões CO2 (gr/km): 255 – 275 (WLTP)
Dimensões e pesos
Comprimento/Largura/Altura (mm): 5018/1996/1967
Distância entre eixos (mm): 3022
Largura de vias (fr/tr mm): 1704/1700
Peso (kg): 2286
Capacidade da bagageira (l): 1075 – 2380
Deposito de combustível (l): 90
Pneus (fr/tr): 255/60 R20
Preço (Euros): 107.152
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