
Ensaio Kia e-SOUL: um elétrico muito interessante
29/01/2021
Se já viu o “favor e contra” deve estar a pensar que sou maluco. Mas… antes de pensar nisso, acompanhe-me no meu raciocínio. Gosta do Soul? Sim ou não (riscar o que não interessa), a verdade é que não fica indiferente a este Kia, que começou como modelo alternativo e virou ponta de lança da eletrificação da marca coreana. Não há como ficar indiferente e durante o tempo que andei com ele havia as expressões de esgar e as de aprovação. Mais umas que outras? Não consegui fazer a destrinça. Lá está, o gosto não se discute, conversa-se e neste caso o Soul tem prós e contras. Quanto ao resto… tem de ler o ensaio!
- A FAVOR – Autonomia, conforto, estilo controverso
- CONTRA – Bagageira, alguns materiais, estilo controverso
Curiosamente, ou não!, o Kia Soul vendeu mais desde que passou a ser um carro elétrico, pelo menos na Europa. Nos outros mercados ainda há versões a gasolina, mas no Velho Continente nunca o carro teve tanto sucesso. Razões para isso? Porque é um carro 100% elétrico e porque a Kia fez um esforço tremendo para que fosse vendido, indo ao bolso para lhe oferecer um desconto interessante no preço de base.
Depois, esgrimindo as benesses fiscais de cada país, ofereceu mais alguns euros. Como sucede em Portugal com a Kia a oferecer um desconto de 8 mil euros até que o preço ficou nos 40 mil euros.

COMO É O KIA E-SOUL?
Por baixo do manto que é mais controverso que decisões governamentais e separador que o bastão de Moisés, habita a mesma plataforma e a solução 100% elétrica que é usada no Hyundai Kauai Electric e no Kia e-Niro.
Logo aqui, chancela de qualidade, particularmente se olharmos para o Hyundai já que o e-Niro ainda não conheço.
O Soul nesta sua última encarnação, tem uma distância entre eixos 30 mm maior e tem 80 mm a mais no comprimento, ou seja, ganhou corpo está próximo do tamanho de um Hyundai Kauai, sendo mais longo e alto que um Ford Puma ou um Renault Captur. Curiosamente, é mais pequeno que o e-Niro. Esta situação é explicada pelo facto do Niro ser um carro específico para a eletrificação e a Kia não querer canibalização entre os dois. Digo eu…
Reclamando uma autonomia de 450 km, a Kia diz que o e-Soul é muito eficiente. E, diplomaticamente, refere que é mais eficiente que o modelo elétrico mais vendido. E não, não é o Zoe da Renault, é o Leaf da Nissan. E a Kia pode jactar-se desta maneira porque para se conseguir mais autonomia terá de ir à carteira e pagar bastante mais por um Model 3 Long Range.


Mas há mais coisas interessantes, para lá do estilo, do Kia e-Soul. O carro é potente e porque pesa pouco mais de 1,6 toneladas, consegue chegar dos 0-100 km/h em interessantes 7,6 segundos!
Ah! e à outra boa novidade: o carro é agora carregado mais depressa pois está equipado com carregador interno que suporta os 100 kW dos carregadores rápidos, conseguindo carregar entre 10 e 80% da bateria em 42 minutos. Num carregador de 50 kW, em 1h15m carrega 80% da bateria.
Com uma “Wallbox” de 7 kW que pode ser montada na sua garagem, leva 9h35m. Não é fantástico, mas há quem faça pior. Se não tiver uma “Wallbox”, a coisa complica-se, pois numa tomada normal são precisas 31 horas! Ah e outra coisa… se quiser uma “Wallbox” terá de procurar que a Kia não tem nenhuma.

O INTERIOR TAMBÉM É MEIO DOIDO COMO O EXTERIOR?
Nem por isso. Não é convencional, mas não chega tão longe. Em primeiro lugar, dizer que a Kia quer que, sentados ao volante, pensemos estar num SUV. Ou seja, o Soul não é um SUV, mas a Kia quer que pensemos que sim.
Depois, os bancos são confortáveis, com regulação elétrica e ajustam-se bem ao corpo. A posição de condução é elevada, claro, e a habitabilidade é generosa. Claro está que para um carro que não cresceu assim tanto e oferece uma boa habitabilidade, alguma coisa terá de ser prejudicada.
A “fava” saiu à bagageira que está limitada. Exemplo? O Kauai oferece 332 litros, o Soul não vai além dos 315 litros e o e-Niro oferece 451 litros. É uma dificuldade do Soul, claramente.

O tabliê mostra-se mais animado, digamos assim, que o do e-Niro e aqui não posso deixar de dizer o que a Kia diz. Ora a casa coreana diz que o interior do Soul foi inspirado pela música. É apenas uma nota porque não consigo perceber essa inspiração.
Fácil de utilizar, o sistema de info entretenimento é servido por um ecrã de 10.25 polegadas, dentro de uma moldura onde estão as saídas do sistema de climatização e alguns dos controlos físicos. Essa moldura está destacada no meio de uma onda que varre o carro de um lado ao outro, o mesmo se passando com os controlos da climatização e, mais abaixo, com a consola central.
Como disse, há vários controlos físicos, o que é uma boa notícia e o sistema UVO Connect está disponível e o e-Soul tem ligação permanente à internet através do eSim. Isso permite que seja possível o sistema de navegação indicar os postos de carregamento.
Quanto ao equipamento, a versão mais dotada oferece, praticamente, tudo, mas para que possa configurar o seu e-Soul, carregue aqui e aceda á página da Kia em Portugal. Já está prontinha para usar.

MUITO BEM E COMO É O E-SOUL EM ESTRADA?
Alguns devem lembrar o anterior e-Soul. Era um carro pouco maduro e que serviu, na altura (corria 2014), o objetivo da Kia eletrificar a gama.
Ora, este e-Soul é muito diferente. Tem mais potência, mais binário, tem uma bateria mais eficiente e quase duplica a autonomia. Claro, é mais caro, mas tenho a certeza que o benefício é largamente superior ao custo.
Tudo isto pode ser resumido nos 7,6 segundos que o e-Soul precisa para acelerar dos 0-100 km/h. E isto feito da maneira típica dos modelos 100% elétricos, ou seja, suave, mas decididamente. Claro que se exagerarmos no acelerador, acontece o mesmo que sucede com o Kauai, ou seja, as rodas dianteiras patinam e com vontade!
E não vale a pena carregar muito no acelerador em piso molhado, pois arrisca-se a ficar… parado. Efeito do binário imediato do motor elétrico.
Além disso, derreterá a carga da bateria sem necessidade. A condução de um elétrico é um bocadinho um exercício de compensações. Há que evitar exagerar e ser suave que o carro embala e ganha velocidade e não penaliza a autonomia. Até porque em autostrada e a fundo, a carga da bateria desaparece mais depressa que um fósforo aceso.
Evidentemente que uma coisa são as homologações, mesmo com o WLTP, outra coisa é a realidade. Mesmo assim, wow!, o e-Soul consegue – se formos cuidadosos e aproveitarmos o perfil da estrada para regenerar alguma coisa e oferecer mais uns pozinhos de emergia – fazer 400 km sem parar. Pronto, a parte final do percurso será feito com o coração nas mãos e com a ansiedade no máximo. Mas acreditem que chegam lá.
Claro que o sistema de regeneração ajuda e de que maneira. É o mesmo usado pelo e.Niro e pelo Hyundai Kauai Electric. É inteligente e regula automaticamente o nível de regeneração consoante o trânsito. Funciona muito bem, mas a travagem é um bocadinho imprevisível e a sensação no pedal é estranha.
O sistema permite-lhe optar por deixá-lo fazer o seu trabalho, ou então usar as patilhas colocada atrás do volante, não para passar de caixa, mas para regular a agressividade da regeneração. Eu gosto de usar as patilhas, pois a imprevisibilidade da travagem, praticamente, desaparece.
Digo-lhe que a direção não é lá grande coisa em termos de sensibilidade e que o Soul não evita algum movimento da carroçaria quando puxamos pela unidade motriz. Mas nesta altura, vai olhar para o ponteiro da bateria e verá este viajar a alta velocidade e rapidamente levantará o pé.
Finalizo este capítulo dizendo que se escutar ruído de rolamento ou aerodinâmicos, não se amofine: não há motor de combustão interna e por isso escuta-se quase tudo. E reforço, quase, porque o e-Soul até não está mal insonorizado.
O QUE É QUE EU PENSO DO KIA E-SOUL?
O Kia e-Soul é um carro muito bom. Acreditem! É um carro muito bom, tem uma excelente autonomia de 400 km – que eu medi – e uma unidade motriz que todos reconhecemos como excelente. Adiciona um estilo que não é consensual, mas que é mais interessante que o mais aborrecido e-Niro. O interior também é mais alegre. Pena que a bagageira seja pequena. Dito isto, sendo mais barato que o e-Niro qualquer coisa como 2.750 euros, a escolha é evidente. A minha escolha seria, sempre, o e-Soul.
Ficha técnica
Motor elétrico síncrono magneto permanente; Potência máxima (CV/rpm): 204/3800-8000 – 4000; Binário máximo (Nm/rpm): 395/0 – 3600; Transmissão: dianteira com caixa automática de 1 velocidade; Direção: Pinhão e cremalheira assistida eletricamente; Suspensão (ft/tr): Independente McPherson/independente multibraços; Travões (fr/tr): Discos vent./discos; Prestações e consumos Aceleração 0-100 km/h (s): 7,6; Velocidade máxima (km/h): 167; Dimensões e pesosComprimento/Largura/Altura (mm): 4195/1800/1605; Distância entre eixos (mm): 2600; Largura de vias (fr/tr mm): 1565/1575; Peso (kg): 1685; Capacidade da bagageira (l): nd; Bateria (kWh): 64; Pneus (fr/tr):215/55 R17; Preço: 40.000€ (sem promoção custa 48.000€)