
Hyvaa syntymapaivaa Markku Alen: 70 anos de “maximum attack”!
15/02/2021
Markku Allan Alen, um dos pilotos mais espetaculares que passou pelo mundial de ralis faz 70 anos neste dia 15 de fevereiro. Hyvaa syntymapaivaa Markku Alen!
Terá sido um dos mais espetaculares e dos mais talentosos pilotos que passaram pelo Mundial de Ralis. Ganhou tudo o que havia para ganhar, foi campeão do mundo durante 11 dias e esteve 16 anos a pilotar para marcas italianas.
Adora Portugal e venceu a prova portuguesa do Mundial com vários carros, ficando na memória de todos o despiste na Peninha e a recuperação ao alcance de poucos para ganhar a prova de 1981 com o Fiat 131 Abarth.
Nunca foi campeão do mundo, mas o grande – no tamanho, na educação e na gentileza – Markku Alen deixava-nos de boca seca quando se dobrava para entrar no Fiat 131 Abarth ou no Lancia 037, arrumava as grandes pernas dentro do carro e antes de colocar o capacete dizia as palavras mágicas: “OK. Now – maximum attack!”
Nasceu há 70 anos neste dia 15 de fevereiro na cidade de Helsinquia, filho de um campeão finlandês de corridas no gelo, que conquistou o título em 1966, o mesmo ano em que o filho começou a andar de moto e a conduzir karts. Tinha 15 tenros aninhos…

Quando chegou aos 18 anos, comprou um Renault 8 Gordini com especificações oficiais. Talvez com o dinheiro ganho no filme “Bensaa Suonusca”, uma longa metragem finlandesa onde dois homens e uma mulher faziam um triângulo amoroso envolvendo-se em lutas nas corridas e no amor.
O talento era evidente pois no seu primeiro rali (o Hankirally) ficou em segundo. Mas estava a caminho da vitória quando foi bloqueado na estrada e perdeu dois minutos. Ficava dado o mote!
Tornou-se campeão Junior da Finlandia e depois entrou na equipa do pai de Henri Toivonen, Pauli Toivonen. O carro? Um Sumbeam Imp com o qual foi campeão finlandês de corridas no gelo em 1970.
Nesse mesmo ano, Markku Alen pilotou um Opel Kadett GTE no Rali dos 1000 Lagos. Mas andou tão depressa que, primeiro, voou tanto que quase destruiu o carro de Grupo 1, andou pelo terceiro lugar com um carro quase de série e acabou tudo naquele que o finlandês reputa como tendo sido o maior acidente da sua vida.
“Tive um enorme acidente num dos troços da segunda etapa, talvez o mais violento da minha carreira. O carro parecia uma banana (risos), só o tejadilho ficou intacto” disse o finlandês em entrevista a John Davenport, disse-me algo semelhante quando esteve há uns anos para apresentar um Subatu em Portugal e a conversa andou em redor do acidente no Rali de Portugal, o célebre da roda perdida na Peninha, aqui neste excelente registo do fotógrafo Jorge Cunha.

Isto porque o piloto finlandês, ao contrário daquilo que alguns pensam, tem uma folha muito limpinha em termos de acidentes. Ou seja, sempre foi muito rápido, mas fiável.
E Portugal é, realmente, um pais e uma prova fetiche para o grande Markku Alen: disputou o rali português por 15 vezes, apenas abandonou uma vez – quando a Lancia e as outras equipas oficiais se retiraram devido ao acidente de Joaquim Santos na Lagoa Azul em 1986 – mas ganhou cinco vezes o Rali de Portugal.

Markku Alen não ficou abalado com o acidente e em novembro esteve no Rali Helsínquia, mostrando que a velocidade estava lá toda e… ganhou!

A exibição foi suficiente para que a Volvo lhe estendesse uma folha de contrato para andar três anos ao volante de um 142. O carro não era verdadeiramente competitivo, mas em 1972 foi terceiro no 1000 Lagos em em 1073 foi segundo atrás do Ford Escort oficial de Timo Makinen. E não ganhou porque num dos saltos, ia tão depressa que a queda foi violenta e a parte elétrica sofreu e o carro nunca mais funcionou da melhor maneira. O 12º lugar no Rali RAC de 1972 com Atso Aho a seu lado, deu a Markku Alen os holofotes internacionais.
Quem deu uma mãozinha ao finlandês? O mago dos Escort, David Sutton. Ofereceu-lhe um Ford Escort RS 1800 e o navegador Henry Liddon para um rali nas ilhas britânicas. Começou por não correr bem com uma cremalheira da direção partida, mas repararam e ainda foram a tempo de ser segundos atrás de Roger Clark (foto abaixo).

Mais que suficiente para a Ford Motorsport lhe entregar um carro para o Rali RAC de 1973, onde surgiu a seu lado o companheiro de uma vida nos ralis: Ilkka Kivimaki.
Uma saída de estrada atirou-o para o 177º lugar da geral, mas a recuperação no resto do rali foi extraordinária e chegou ao 3ºlugar, deixando meio mundo boquiaberto (em baixo).

Claro que choveram elogios e a Ford chegou-se á frente com um papel em branco. Porém, estávamos no início de 1974 e a crise petrolífera estava a eclodir, abatendo o Monte Carlo e a Suécia. A Fiat juntou-se ao namoro do piloto finlandês e Alen disputou o Rali do Ártico com um Ford Escort (foi 4º classificado) e o Rali de Portugal com um Fiat 124 Abarth (foi 3º) e o Rali de Gales novamente com um Ford Escort.
A escolha de Markku Alen foi simples: na Ford haviam demasiados pilotos para as provas a disputar, o contrato era, na realidade, um meio contrato e como a Fiat queria que ele fizesse mais ralis, a Fiat acabou com o génio finlandês.

Os resultados foram imediatos e a casa de Turim recolheu um segundo lugar no Rali Press and Regardless, nos EUA. Alen ainda fez mais um rali com um Ford Escort, o RAC de 1974, abandonando com uma bomba de água partida. Foi o canto do cisne da relação com a Ford. A partir dai, Markku Alen tornou-se no finlandês mais latino de sempre, bebendo toda a cultura italiana e o seu modo muito particular de estar e de falar com o inglês macarrónico e um italiano de ir ás lágrimas.

Alen andou com o 124 Abarth e ainda andou com o Lancia Stratos, mas foi em 1986 quando a Fiat elegeu o 131 Abarth como arma para o Mundial de Ralis que o génio se soltou.
O Fiat 131 Abarth era um carro desenhado para a competição, totalmente ajustável com suspensões, transmissão e chassis pensados para os ralis. Markku Alen colaborou com Giorgio Pianta para desenvolver o carro que viria a quebrar a hegemonia da Lancia.
O carro que viria a ganhar três títulos mundiais tinha algumas inferioridades: o motor BDA da Ford era melhor que o da Fiat, a potência do Escort era maior, mas o chassis do 131 era melhor, as suspensões independentes eram melhores e tudo acabou por se jogar nos meios colocados em jogo. A Fiat levava para cada prova uma equipa de testes que levava sempre dois carros, um com motor para ralis, outro com motor mais pontudo para pista. E contou com a ajuda da Pirelli, com pneus feitos para o 131 Abarth. Como diz Alen “tivemos sempre os melhores pneus!”

O sucesso de Markku Alen com a Fiat é conhecido de todos e quando a Lancia passou a fazer parte da Fiat, o finlandês andou com o Stratos no San Remo, Giro d’Italia e RAC. Ganhou o San Remo e depois destas três provas explicou como era um dos carros míticos do Mundial de Ralis.
“Andei tantas vezes a lutar com o Stratos ao volante do 124 e do 131, mas só depois de andar com ele é que percebi porque era tão rápido. É um carro muito fácil de pilotar, especialmente em alcatrão, com muita potência. Nada a ver com os Fiat! Só tinha dois problemas: no nevoeiro e com chuva, a visibilidade era péssima e como sou muito alto, passava a vida a bater com a cabeça no teto e nos ferros do arco de segurança!”

O passo seguinte foi o Lancia 037 e no primeiro ano, Markku Alen conseguiu ser 4º no RAC de 1982. Mas nos três anos seguintes, o lindíssimo 037 de tração traseira, nas mãos de Markku Alen, andou a lutar com os Audi Quattro e Peugeot 205 T16, conseguindo, vez por outra, vitórias espetaculares.
O finlandês adorava o 037. “Era um carro fantástico” confessou quando falamos nessa tarde no Hotel da Penha Longa na apresentação da Subaru, já lá vão uns anos valentes. “Só lhe faltava as quatro rodas motrizes, o que o atrasava nos pisos de terra. Mas no alcatrão, era brilhante e na Córsega, rali que ganhei duas vezes, mostrou como era confortável de pilotar. Era um rali onde estávamos ao volante 14 horas sem direção assistida e, mesmo assim, era delicioso de pilotar.”

Os Grupo B começaram a crescer e o Lancia Delta S4 chegou com mais uma invenção da equipa italiana: um motor de 4 cilindros com turbo compressor e compressor volumétrico.
Markku Alen ficou em segundo do RAC de 1985 na estreia do carro e em 1986 estava tudo montado para que o finlandês pudesse ser campeão do Mundo.
Mas… o que nasce torto tarde ou nunca se endireita e se no Monte Carlo viu um problema de motor atirá-lo para fora de prova, na Suécia foi 2º. Em Portugal foi a prova da revolta com Markku Alen a juntar-se ao levantamento dos pilotos e á sua recusa em continuar depois do acidente de Joaquim Santos, na Córsega deu-se o acidente que matou Henri Toivonen e Sergio Crespo e a Lancia retirou os Delta S4 da prova e, na Acrópole, o motor voltou a falhar.

A meio do ano, parecia que o título voltaria a fugir-lhe e a idade ia avançando. Mas a Lancia ofereceu a Alen a possibilidade de fazer os 11 ralis da temporada de 1986 – o que não acontecia com os rivais – fazendo regressar o 037 para o Safari (3º lugar). O título voltava a surgir no horizonte e no Sanremo, a 10º prova do Mundial de 1986 – uma edição, certamente, amaldiçoada! – aconteceu aquilo que muita gente quererá esquecer.
A luta estava entre Juha Kankkunen (Peugeot) e Markku Alen, com dois pontos a separá-los. O rali começou com o pé esquerdo para o homem da Lancia: um furo no primeiro troço esbofeteou-o com dois minutos de atraso. A recuperação foi á imagem do que fez em 1973 no RAC com o Escort RS, chegando ao segundo lugar a menos de um minuto de Miki Biasion.
O italiano foi instruído por Cesare Fiorio para parar no último troço e perder o tempo necessário para que Alen chegasse ao primeiro lugar e ganhasse o título. Markku Alen lembra bem dessa altura. “Senti-me tão mal que não fui á distribuição de prémios e fui direto para casa.”

Foi a prova onde os o colégio de comissários técnicos desclassificou os Peugeot pelo uso de saias ilegais, entregando a vitória à Lancia (Alen 1º e Biason 2º). Mas os 205 T16 Evo2 sempre usaram essas saias e nas verificações técnicas antes da prova foram aceites. A Peugeot Sport apelou, mas tiveram de abandonar a prova no final do terceiro dia de Rali de Sanremo. A FIA, na época liderada pelo irrascível e controverso Jean Marie Ballestre, veio em socorro da Peugeot, declarou ilegal a desclassificação dos Peugeot e decidiu anular os resultados da prova.
Markku Alen foi campeão do Mundo de Ralis 11 dias e à distância lembrou que foi uma idiotice o que aconteceu. “Ainda hoje não faço a mínima ideia porque desclassificaram os Peugeot. Não sei se alguém protestou ou o que é que se passou. Para mim foi um enorme erro. Se tivessem deixado ficar os Peugeot teria sido segundo e, provavelmente teria sido campeão do Mundo.”

A partir daqui a carreira de Alen entrou num patamar onde a competitividade dos carros da Lancia poderia ter-lhe oferecido o título. Após 1986, encontrou-se ao volante de um Lancia Delta HF 4WD, um carro de Grupo A, bem diferente do monstro S4.
Mas era um carro muito mais competitivo que os restantes e as evoluções Integrale, Integrale 16V e Deltona provaram isso mesmo.
Markku Alen foi engrossando o seu palmarés com vitórias, mas nunca mais esteve na luta pelo título de pilotos, apesar de ter acabado por duas vezes no pódio. Mas os carros de grupo A não lhe encheram as medidas. “No Delta S4, tínhamos muita potência e controlavamos o carro com o acelerador. Quanto mais andamos de lado, maior o controlo. Nos carros moderno, se houver uma roda a patinar é porque alguma coisa se partiu. Os carros de hoje são giros, mas precisam de mais potência e… mais barulho!”

Markku Alen ainda esteve dois anos com a Subaru, depois da Lancia ter abandonado a competição sem luz verde para substituir o Delta. Em 1990, a Prodrive entregou o Legacy a Alen e o finlandês ainda conseguiu um quarto lugar com o “táxi” nos 1000 Lagos de 1990 e um terceiro em 1991.

Chegou á Toyota em 1992, mas já tinha passado dos 40 e funcionou mais como apoio a Carlos Sainz que outra coisa. Em 1993 não havia um programa completo á sua disposição, mas ainda foi segundo no Safari com um Toyota e 4º em Portugal com um Subaru Legacy.

Estreou o Subaru Impreza 555 nos 1000 Lagos, lado a lado com o campeão do Mundo de 1981, Ari Vatanen. Mas nção foi feliz e saiu de estrada com alguma violência logo no primeiro troço. Ficava marcado com este desaire o fim da sua carreira como piloto de topo do Mundial de Ralis.

Não pendurou o capacete e as luvas, pois foi fazer duas corridas do DTM e do International Touring Car Championship em 1995 com a Alfa Romeo e fez o Troféu Andros em 1996 e 1997.
Quando fez 50 anos, em 2001, Markku Alen decidiu celebrar em grande e inscreveu-se no Rali da Finlândia com um Ford Focus WRC. Provando que “velhos são os trapos” e alardeando a sua proverbial rapidez, terminou num muito respeitável 16º lugar à geral.

Esteve duas vezes no Paris Dakar num camião e em 2010 foi contratado por Luca di Montzemolo para piloto de testes da Ferrari.

Hoje completa 70 anos de uma vida cheia, o mais latino dos finlandeses que tem vivido sempre com a máxima “OK, Now is Maximum Attack”. Parabéns Markku Alen!





















