
Ensaio Nissan Juke 1.0 T-DIG: manter ousadia com mais qualidade
13/08/2021
Foi pedrada no charco, mas as ondas de choque foram-se desperdiçando durante os longos nove anos que esteve exposto à agressão de cada vez mais e melhores rivais. O conceito estava certo e por isso o Juke regressou, mantendo a ousadia, mas com mais qualidade, conteúdo e um interior mais prático.
- A Favor – Motor, Chassis, bagageira
- Contra – Consumos, Detalhes nos acabamentos
O novo Juke continua a ser um carro pequeno, alto e com um estilo diferenciado do resto do segmento. Cresceu em todas as dimensões: é mais comprido 75 mm (4210 mm), mais largo 29 mm (1800 mm) e mais alto 13 mm (1595 mm). Mas o mais impressionante é o ganho na distância entre eixos. São mais 105 mm (2636 mm) que fazem toda a diferença.
Com estes 4,2 metros de comprimento, o Juke fica entre um Clio (4050 mm) e um Megane (4359 mm) e com uma bagageira que oferece mais 20% de capacidade (com 422 litros passa a ser das maiores do segmento), é um carro que passa a lutar numa classe diferente, ou seja, deixou de ser um miúdo entre adultos para ser um carro capaz de ser opção aos modelos do segmento acima.
Tudo isto é cortesia da plataforma da Aliança Renault Nissan Mitsubishi, a CMF-B que serve de base ao Clio e Captur. E esta faz toda a diferença, apesar de ser uma base convencional que só aceita motores transversais e tração dianteira com suspensões McPherson á frente e eixo de torção na traseira. Mas isso não inibe o Juke de ter dado um enorme passo em frente face á anterior geração.
Entretanto, a Nissan decidiu simplificar tudo e o Juke deixou de ter várias opções de motores para oferecer apenas o bloco 1.0 DIG-T, uma unidade de três cilindros a gasolina sobrealimentada, com 117 CV e 200 Nm de binário com “overboost”.
So há este motor com a opção de caixa manual de seis velocidades ou automática de dupla embraiagem (a EDC da Renault) com sete marchas. Em termos de performances, a Nissan segue a tendência atual de dar mais importância à eficiência em termos de consumos e emissões. Por isso, o Juke com este motor não vai além dos 10,4 segundos no exercício dos 0-100 km/h, com caixa automática o mesmo exercício leva mais 0,7 segundos.
No que toca aos consumos, a Nissan reclama 6,0 l/100 km para o Juke manual e 6,1 l/100 km para o Juke automático, enquanto que em termos de emissões, são 135 gr/km de CO2, menos 30% que anteriormente, para o manual e 138 gr/km para o automático.

COMO É O NOVO JUKE POR FORA E… POR DENTRO?
O que fez vender o Juke desde a primeira hora foi, além da novidade, o estilo do carro.
Evidentemente que o novo Juke teria se seguir a mesma via e esta segunda geração é facilmente identificada, pois a ideia é a mesma, agora com mais músculo – as jantes de 19 polegadas que preenchem na totalidade as musculadas cavas das rodas ajudam a essa imagem – e bebendo alguma inspiração no anterior modelo.
Ou seja, por fora, o Juke continua irreverente e, na minha opinião, deixou de ser um carro de extremos (amor ou ódio) para ser um belo exercício de estilo. Eu gosto muito e acho que face ao anterior é uma belíssima evolução.
Os menos atentos podem pensar, ao olhar para o interior, que o Juke deu um passo atrás. E é verdade que olhando ao trabalho feito no exterior da nova geração do Juke, o interior é, realmente, convencional. Porém, não deixa de haver algumas originalidades: as saídas de ar da climatização e a personalização permitida em determinadas áreas.
O desenho é menos futurista, mas é muito mais prático e tem muito mais qualidade que o anterior modelo. O sistema Nissan Connect volta a evoluir, o carro “fala” com o nosso smartphone e consoante o nível de equipamento, a dotação de equipamentos de segurança impressiona.
A configuração do interior, sim, é convencional com uma posição de condução elevada com amplo ajuste em todas as direções, um volante bem posicionado e de pequenas dimensões e uma alavanca da caixa de velocidades que me parece estar mais perto do condutor que anteriormente.

MELHOR VISIBILIDADE E MAIS ESPAÇO
A superfície vidrada é maior que no anterior modelo, logo a visibilidade é melhor, mesmo que o óculo traseiro continue pequeno. O capô mais curvado permite que seja possível avaliar melhor as manobras de estacionamento. Todos os comandos são novos e funcionam sem esforço, mas com decisão e uma sensação de qualidade que no anterior não existia.
O salto qualitativo é mais que evidente e pequenos detalhes mostram como a Nissan foi inteligente na evolução do Juke: não podendo seguir outra via no exterior, sabia que no interior poderia voltar a um registo mais comum e, por exemplo, o comando dos modos de condução deixou de ser uma alegoria para estar resumido a um botão colocado na base da alavanca da caixa que tem três posições, Eco, Normal, Sport.
Outra melhoria está na traseira do Juke, já que com a majorada distância entre eixos, há agora muito mais espaço para os joelhos de quem segue no banco traseiro: aumentou 58 mm e há mais 11 mm de espaço em altura.
Na bagageira há mais 20% face ao anterior modelo (422 contra 354 litros), mas sobretudo um melhor acesso: a largura máxima do acesso é de 1043 mm (mais 29 mm) e a mínima é de 1003 mm (mais 131 mm), com a altura ao solo a estar 131 mm mais baixa. Uma enorme evolução, também aqui, no que toca á habitabilidade e á mala.

E COMO É O JUKE EM UTILIZAÇÃO?
A Nissan fala muito de agilidade e do carácter desportivo do Juke. Se a primeira ainda reconheço depois de mais de 300 quilómetros feitos neste ensaio, o segundo nem por isso. E de nada vale ligar o modo Sport, pois as diferenças são poucas.
O carro consegue curvar com à vontade, não coloca dificuldades de maior, mas não tem essa aspiração e muito menos uma envolvência por aí além na condução. Há rivais que são mais envolventes e mais eficazes no que toca ao comportamento.
No que toca ao conforto, o Juke surpreende pela positiva, porque a Nissan não quis seguir a via mais fácil e endurecer a suspensão para contrariar os normais movimentos de uma carroçaria alta e conferir um comportamento mais desportivo. E nem mesmo as jantes de 19 polegadas que lhe ficam tão bem, prejudicam muito o conforto. Já nas lombas e nas bandas sonoras, sente-se perfeitamente a chegada aos limitadores de curso dos amortecedores, com um barulho claro. Em suma, o conforto é bom, embora um pouco seco.
Enfim, gostei muito do comportamento e da forma como o Juke pisa o asfalto e também gostei do motor 1.0 DIG-T. Claro que é, também por aqui, que o Juke não consegue ter um carácter desportivo, pois são apenas 117 CV e o bloco triclindrico tem enorme anemia abaixo das 2000 rpm. A partir dai, a subida de rotação é rápida e o motor empurra com decisão o Juke para diante. E se até àquele patamar de rotação não se nota o habitual “prrrrreee” dos três cilindros, a partir dai o motor muda de som, mas sempre sem incomodar os ocupantes.
Aliás, sendo inteiramente honesto, raramente se nota que estamos ao volante de um carro com motor de três cilindros.
Como disse acima, a performance do carro está longe de ser desportiva, mas é aquela que é possível com este motor que é mais económico que desportivo. Beneficia do carro ser levezinho (1182 kgs com caixa manual e 1207 kgs com caixa DCT) para não ter grandes dificuldades, mas com 200 Nm e 117 CV, mais é impossível.
A caixa de dupla embraiagem é suave e funciona de forma perfeita, apesar de algumas hesitações e algum desconforto quando no modo Sport. Nada de preocupante e que me leva a recomendar esta caixa face á unidade manual.
No que toca aos consumos, o bloco 1.0 litros sobrealimentado com injeção direta, não é um pisco e a média do ensaio não ficou abaixo dos 8,1 l/100 km. Um valor algo elevado.

O QUE É QUE EU PENSO DO JUKE?
Sinceramente, tenho alguma dificuldade em recomendar um SUV ou um crossover face a um carro convencional, porque estes serão sempre mais eficazes em termos de consumos e de emissões, além do comportamento sempre melhor. Porém, o Juke, tenho de reconhecer, seduz-me pelo estilo muito agradável e pelo facto da Nissan ter corrigido quase todos os problemas da anterior geração. E por isso merece, pelo menos, o direito a figurar numa lista de compras.
Ficha técnica
Motor: 3 cilindros, injeção direta e turbo com intercooler; Cilindrada (cm3): 999; Potência máxima (CV/rpm): 117/5250; Binário máximo (Nm/rpm): 200/1750 – 3750 (função overboost); Transmissão:dianteira, caixa dupla embraiagem com 7 velocidades; Direção: Pinhão e cremalheira assistida eletricamente; Suspensão (ft/tr): McPherson/eixo torção; Travões (fr/tr): Discos; Prestações e consumos; Aceleração 0-100 km/h (s): 11,1; Velocidade máxima (km/h): 180; Consumos (l/100 km): 6,1; Emissões CO2 (gr/km): 138; Dimensões e pesos Comprimento/Largura/Altura (mm): 4210/1800/1595; Distância entre eixos (mm): 2636; Peso (kg): 1182; Capacidade da bagageira (l): 422; Pneus (fr/tr): 225/45 R19; Preço da versão ensaiada (euros) 22.850

















