
André Citroen nasceu há 142 anos
10/02/2022
André-Gustave Citroen nasceu há 142 anos e foi um génio da indústria automóvel nem sempre compreendido.
André-Gustave Citroën, fundador da marca que ainda hoje ostenta o seu nome e que lhe deve a impressão de génio e de inovação que sempre a distinguiu, nasceu em Paris na noite de 4 para 5 de fevereiro de 1878. Era o mais novo de cinco filhos, tendo nascido numa família cosmopolita e orientada para os negócios.
As origens
As origens do nome da família têm um longo percurso. O seu pai, Levie Citroën, era um comerciante de pedras preciosas, filho de Barend, um ourives, ele próprio filho de um vendedor de fruta holandês chamado Roelof, nascido sem apelido. Em 1811, Napoleão I ordenou a realização de um censo, obrigando todos aqueles que não tinham apelido a receberem um, e foi então que Roelof, em referência à sua profissão, passou a chamar-se Limoenmann (literalmente, “o homem dos limões”).
Quando um dos seus filhos, Barend, um artesão ourives, casou com a bela Netje Rooseboom, teve de mudar o seu apelido porque o seu pai, um comerciante grossista de relógios, se considerava de um estatuto superior ao de um simples artesão, apenas consentindo o casamento na condição de Barend alterar o seu apelido em conformidade. Foi então que Barend Limoenmann se tornou Barend Citroen, apelido que, em holandês, se escreve sem o trema e que significa “limão”.
Entretanto, um dos seus doze filhos, Levie, para dar continuidade ao comércio de pedras e metais preciosos do seu pai, mudou-se para Varsóvia, onde se casou com Masza Amalia Kleimann. A nova família decidiu, rapidamente, deixar a Polónia – então sob domínio russo – e depois de considerarem a possibilidade de emigrar para a América optaram, por fim, por ir para França, um país mais próximo, onde, em 1870, estabeleceram tanto a sua residência como a sede do seu comércio de pedras preciosas, em Paris. Foi lá, na “Cidade Luz”, que Barend decidiu dar uma conotação francesa ao seu apelido, pelo que acrescentou um trema acima da letra “e”, dando origem à família Citroën.
Espírito inquieto
André-Gustave não estava de todo interessado no negócio da família, o qual teve continuidade através de alguns dos seus irmãos, mas era um jovem empreendedor, fascinado por todas as coisas modernas e tecnológicas. Graças a este espírito inquieto, conseguiu estudar na Escola Politécnica de Paris, onde se licenciou em engenharia. Contudo, ganhou interesse pelo negócio dos “Citroën”, graças ao qual, durante uma viagem à Polónia em 1900, teve a oportunidade de visitar fábricas especializadas em mecânica de precisão, a fim de se familiarizar com a maquinaria utilizada.
Durante uma destas visitas a uma fábrica perdida no meio do campo polaco, ele descobriu algo que teria um efeito profundo na sua vida no futuro: um novo tipo de engrenagem com dentes diagonais para multiplicar ou reduzir significativamente a força e o movimento de maquinaria imponente. Decidiu de imediato comprar a patente e desenvolvê-la à escala mundial.
Na primeira década do século passado, a Europa era um continente cuja criatividade estava em plena ebulição: da arte à música e à arquitetura, tudo era novo e tudo estava a ser reinterpretado, existindo também a necessidade de redesenhar cidades com estruturas futuristas e novos materiais, deixando o espaço necessário para fábricas modernas capazes de os produzir, tais como siderurgias ou centrais elétricas.
André, que em criança havia admirado a construção da Torre Eiffel, emblema da tecnologia e da modernidade, era o homem certo na altura certa e cedo se apercebeu que o futuro estava na produção industrial, na eficiência e na estandardização.
Siderurgia André Citroen
A primeira atividade da Citroën, em 1902, foi a da siderurgia André Citroën, que produzia materiais para construção e para estaleiros navais, bem como “engrenagens de dupla hélice”, ou seja, as engrenagens da patente polaca cuja forma em “V” deu origem ao símbolo agora histórico das duas pontas de flecha que apontam naturalmente para cima, em direção ao futuro, o hoje famoso double chevron.
A chegada de André Citroën ao mundo do automóvel, o objeto em que melhor expressou toda a sua genialidade, deu-se em 1908 quando aceitou a direção de uma famosa empresa automóvel, a dos irmãos Mors, especializada em automóveis de luxo e de corrida. Para resolver os enormes problemas de dívida da empresa, e graças às amizades da cosmopolita família Citroën, André conseguiu encontrar financiamento junto de um joalheiro abastado de origem arménia que adorava automóveis de corrida. Com a situação bancária de novo no bom caminho, era tempo de ele próprio começar a produzir, pondo em prática todas as novas ideias sobre a linha de montagem e a produção industrial ligadas aos princípios do modelo Taylorismo.
Deste modo, a Mors passou da produção artesanal, em 1908, que só lhe permitia produzir uma dúzia de unidades por mês, para uma produção industrial, em 1910, com 646 unidades/mês.
Automóveis Moers
Embora os Mors nunca tenham sido os automóveis democráticos e acessíveis com que André sempre sonhou, foram um sucesso excecional junto do público e nas vendas, até que o início da Primeira Guerra Mundial ditou o que viria a ser o declínio da marca.
Mas o brilhante André não abandonaria as suas ideias e, em 1919, no Cais de Javel, em Paris, na fábrica de automóveis André Citroën, concebeu o Citroën Type A 10 HP, um automóvel construído em grande escala, que não era nem de luxo nem de corrida, mas sim económico, robusto, fácil de reparar e, embora ainda não ao alcance de todos, acessível a muitos.
O Type A foi o primeiro automóvel europeu construído em série e o primeiro automóvel francês com condução à esquerda, que podia ser conduzido por qualquer pessoa. Foi comercializado equipado com capota, roda sobresselente, faróis e equipamento elétrico, tudo por apenas 7.950 francos (um preço muito baixo para a época). Equipado com um motor de quatro cilindros de 1.327 cc, podia atingir uma velocidade de 65 km/h.
Rapidamente ficou disponível numa variedade de acabamentos, caracterizados por cores brilhantes como o azul e o amarelo, que se destacavam numa paisagem automóvel maioritariamente composta por carros pretos: a marca do double chevron tinha começado, assim, a transformar, para sempre, a forma como os automóveis eram desenvolvidos e construídos.
Uma visão iluminada
Em 1919, foram produzidos 2.810 veículos (Type A, berlina e furgão). Em 1925, a produção anual de toda a gama atingiria um volume de 61.487 unidades.
André Citroën teve uma visão iluminada da produção industrial com uma abordagem extremamente inovadora para a época. Numa tentativa de tornar o Taylorismo mais “humano”, reduzindo os efeitos alienantes da linha de montagem, forneceu aos trabalhadores de Javel estruturas e serviços incrivelmente avançados para o seu tempo.
O pensamento de André pode ser resumido nesta frase: “Eu queria que conseguíssemos criar sorrisos em Javel, em todo o lado, em todos os departamentos, em todos os elos da cadeia. […] Essencial no nosso século, esta cadeia não pode ser quebrada, mas temos o dever de a romper com base em sorrisos.”