Ensaio Kia EV6 GT-Line 77 kWh: coreano eletrizante

Ensaio Kia EV6 GT-Line 77 kWh: coreano eletrizante

19/05/2022 0 Por Jose Manuel Costa
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O ensaio Kia EV6 GT-Line deixa evidente que o Grupo Hyundai tem o talento e a capacidade para abraçar a mobilidade elétrica. E liderá-la! O segredo? Fazer um carro BEV normal que pode ser conduzido de forma normal sem pedir couro e cabelo. Não sendo estas premissas todas verdade em Portugal – o preço de 56.550 euros não é propriamente acessível – a grande verdade é que enquanto muitos andam a lutar para convencer os clientes a comprar carros elétricos, Kia e Hyundai acumulam listas de espera e excelentes resultados de vendas. Este ensaio explica por que razão o Kia EV6 foi “Carro do Ano 2022”.

Rating: 4.5 out of 5.
  • A Favor – Chassis, Comportamento envolvente, autonomia, capacidade de carga
  • Contra – Algumas dificuldades nos acabamentos, direção sem sensibilidade

Acredito que neste momento está a dizer que os carros 100% elétricos da Kia não eram assim tão satisfatórios. Tem toda a razão! Mais! A Kia tinha de fazer um Ioniq 5 mais sedutor. Porém, duvidar do Kia EV6 GT-Line é duvidar da capacidade de aceleração da casa coreana. E isso é um erro! Desde já, olhemos para a parte técnica deste EV6.

Kia EV6 GT-Line

Kia EV6 GT-Line com plataforma exclusiva

Antes de mais nada, dizer que acabou o compromisso em termos de plataforma. A base do Kia EV6 GT-Line é a plataforma E-GMP desenvolvida pelo Grupo Hyundai Kia e que serve, também, o Hyundai Ioniq 5. Uma plataforma excelente que deixou muita gente de boca aberta.

Outra grande diferença está na forma como a plataforma foi desenhada. O grupo VW foi o primeiro a lançar uma base dedicada à carros elétricos, a MEB. Mas todos sabemos como os problemas de software têm assolado os modelos do grupo.

Por outro lado, enquanto a maioria dos construtores faz carros muito iguais entre marcas, na Hyundai Kia isso não sucede.

Kia EV6 GT-Line

E que opinião tem sobre o estilo do Kia EV6 GT-Line? Consensual?

Ama-me ou odeia-me, grita o Kia EV6 GT-Line. Antes de lhe dizer qual a minha opinião, tenho de ser honesto: a casa coreana fez diferente, destaca-se na multidão e sendo, ainda, um automóvel alternativo tem um estilo… alternativo! Por isso, a minha vénia!

Percebe que alguns de vós tenham alguma dificuldade em “engolir” as formas e os detalhes peculiares do carro, particularmente, na traseira.

Tenho de dizer que não é um carro que me deixe de queixo caído, mas já vi modelos elétricos muito mais alternativos sem grande sentido. E, depois, entendo que o Kia EV6 GT-Line tem a medida certa de “loucura” para um modelo 100% elétrico.

Acho delicioso o arranjo dos farolins traseiro, acho piada à forma em cunha. Não tenho tão apreço pela frente que parece desfasada do resto do carro e de alguns ângulos menos felizes.

Por outro lado, a Kia resistiu à tentação de colocar uma enorme grelha, falsa, à frente. Fez uma frente curta, mas não exageradamente, e uma distância entre eixos alongada onde vivem as células da bateria. Por via dessa necessidade de albergar as baterias, o Kia EV6 GT-Line é um pouco mais alto e o piso do carro entra pelo habitáculo. Não é um SUV, mas parece!

Por outro lado, a frente do Kia EV6 GT-Line tem uma entrada de ar funcional para ajudar na refrigeração da bateria e, também, para ajudar na definição e eficácia aerodinâmica. 

Kia EV6 GT-Line

E, tecnologicamente, como é o Kia EV6 GT-Line?

A plataforma E-GMP tem suspensões independentes nos dois eixos (McPherson à frente, multibraços atrás) e tem um motor generoso no eixo traseiro. Mas há muito mais neste EV6.

Desde logo a forma de carregar a bateria. A arquitetura elétrica do Kia EV6 é de 800 volts. Ou seja, consegue carregar a bateria até 350 kW sem necessidade de cabos especiais. Sabem onde é que encontram um carregador assim?  Nos Porsche Taycan e no Audi e-tron GT!

Depois, o Ev6 tem capacidade de V2L (Veihcle to Load). Quê? Capacidade de carregar outros veículos ou dispositivos com a carga da bateria do EV6. Pois é, como há muita capacidade na bateria do EV6, pode carregar telefones e outros aparelhos e até outro veículo elétrico! Espetacular!

Palavra final para lhe dizer que não há muitas opções. Todos os Kia EV6 são encomendados com o mesmo motor – há uma versão com um segundo motor elétrico que o torna 4×4 – há dois níveis de equipamento e… é tudo.

E como é o interior deste Kia EV6?

Olhem… é igual ao exterior, ou seja, nada consensual! Desde logo, há uma mescla de influências de uma berlina e de um SUV. Quando entramos, “caímos” para o banco e ficamos com as pernas esticadas, pois, o chão do carro está alto. Até parece que estamos num desportivo!

Depois, temos a coluna de direção num ângulo que é contranatura face à forma como estamos sentados. Finalmente, olhamos pelo vidro e temos uma frente curta com boa visibilidade, exceção feita às cavas das rodas mais proeminentes. Assim, de repente, até parece que estamos num Audi R8 de motor central! Enfim, tudo pouco normal. Mas tenho de dizer que não é mau. É diferente, apenas.

Depois, choque! Então sendo uma plataforma tipo “skate” não deveria a possibilidade de circular pelo interior tal como sucede no Hyundai Ioniq5? A Kia acha que não e entre os bancos da frente está uma enorme consola com o comando da caixa de velocidade única, o carregador sem fios do telemóvel, os comandos de várias funções e um gigantesco porta luvas.

Razão para isto? A Kia quer que o EV6 seja mais “desportivo” e até por aqui o EV6 se afasta do Ioniq 5. 

Depois vêm as questões de decoração. Há muito plástico preto brilhante que não tem a qualidade que esperava. Depois, a enorme consola central flutuante é enorme e durante o ensaio já fazia alguns barulhos, sendo inevitável que tudo o que estiver dentro do porta luvas anda aos trambolhões e a chocalhar. 

Ao mesmo tempo, a Kia não quis tomar partido no que toca ao duelo entre mais ou menos botões físicos. Assim, por baixo das saídas de ar do sistema de climatização, existe um painel com botões virtuais e outro com dois botões físicos. Curiosamente, duplicam-se uns aos outros e podem ser usados alternativamente. Não é uma solução muito engenhosa porque é pouco intuitiva.

Há muito espaço dentro do Kia EV6

A grande distância entre eixos oferece uma habitabilidade generosa ao nível de modelos de topo. Isso é válido no que toca ao espaço para arrumar as pernas. Já na forma como ficamos sentados, nem por isso. Ou seja, o piso elevado devido às baterias e ao facto da Kia não ter exagerado na altura do carro, faz-nos ficar sentados com os joelhos muito para cima, logo, com as coxas mal apoiadas. Se nas curtas distâncias não incomoda, nas viagens mais longas é deveras desconfortável.

Para piorar tudo, os bancos da frente não podem subir muito e por isso não há, praticamente, espaço por baixo dos bancos para quem segue atrás poder esticar as pernas.

Ou seja, há espaço, mas este não é usado de forma confortável para os passageiros como os dados revelados pela Kia sugerem. A bagageira sofre do mesmo problema. Há muito espaço em teoria, mas como o piso é elevado há limitações no tipo de malas e cargas que possam ser levadas no EV6. Por isso, os 490 litros não são fantásticos olhando, claro, ao tamanho do carro.

Kia EV6 GT-Line

Para você que gosta de tecnologia a bordo, o EV6 é dos melhores!

Vou dizer uma coisa que pode ser mal-aceite… mas cá vai! O Grupo Hyundai Kia tem os melhores sistemas de info entretenimento do momento, equipados com ecrã sensível ao toque. É verdade que há sistemas mais completos e mais bonitos, mas o do Kia EV6 é claro, objetivo e fiável em todas as funções oferecidas.

Tudo é percetível, os atalhos são claros e úteis e o ecrã e o sistema operativo respondem com rapidez e lógica.

Obviamente que não é perfeito e partilhar o controlo do sistema de climatização com o sistema de som no mesmo ecrã é uma aberração. Obviamente que tem Apple CarPlay, Andoid Auto sem fios e portas USB-A e USB-C. O sistema de navegação, várias vezes se baralhou na busca de postos de carregamento e, ainda por cima, não sabia se estavam ou não funcionais.

Kia EV6 GT-Line

O motor do EV6 é potente e… desportivo?

O Kia EV6 utiliza um motor elétrico que é mais potente que os rivais, mas mais leve! Também o EV6 é mais leve que os rivais como o Skoda Enyaq. A diferença? Uma centena de quilos. 

Por via dessas diferenças, o EV6 acelera dos 0-100 km/h em 7,3 segundos – aplauso para a Kia que não mente neste particular anunciando 7,3 segundos – e chega aos 185 km/h. Mas mais importante que estas cifras, é a utilização.

O motor empurra o EV6 para diante com decisão e o barulho típico de um motor elétrico amplia a sensação de velocidade. Gostei!

Pode ajustar a força de regeneração de energia através de patilhas atrás do volante: nível 1 é igual a um carro a gasolina; nível 2 e 3 aumenta sobremaneira a regeneração e com a regulação “i-pedal”, podemos conduzir só com o pedal de acelerador. 

Há, ainda, um modo adaptativo que utiliza os dados do sistema de navegação e do “cruise control” adaptativo, para variar automaticamente o nível de regeneração e de travagem.

Finalmente, dizer que o pedal de travão tem uma sensibilidade muito semelhante ao de um carro convencional, exceto quando a travagem exige mais pressão. Ai, é mais complicado gerir a potência dos mesmos.

Kia EV6 GT-Line

E como é o comportamento do EV6?

Os carros elétricos são velozes e fáceis de conduzir, mas com honrosas exceções, não curvam particularmente bem. Ora, o Kia EV6 passa a ser parte da exceção.

Desde logo porque tem um centro de gravidade baixo que a maioria dos rivais, tem um chassis rígido e com tração e motor atrás, muita aderência. A via traseira é larga e com o peso desequilibrado a favor do eixo traseiro, o EV6 tem pouco rolamento da carroçaria e uma aderência intensa proporcionada pelos pneus largos.

As mudanças de direção não prejudicam o equilíbrio, sendo, mesmo, surpreendente como uma massa tão grande se move com tamanha agilidade.

É verdade que, no limite, as paredes dos pneus sofrem e a precisão inicial quase desaparece. Mas o carro continua a curvar, a ter aderência e pode surgir uma ou outra saída da traseira, perfeitamente controláveis.

Ah! e tenho que dizer que se desligar as ajudas á condução e acelerar a fundo à saída de uma curva, vai sentir a traseira a rodar de forma alegre. Mais… se não tiver cuidado e desligar o ESP, á saída de uma curva mais ou menos fechada, fará um vistoso “power slide”!

Tudo isto acaba meio prejudicado pela incapacidade da Kia de fazer uma direção que tenha alguma sensibilidade. Sendo precisa, a direção desilude muito num carro que é muito bom. Deveria ter mais peso e deixar-nos perceber o que as rodas andam a fazer. Não acontece e acaba por ser uma desilusão.

Kia EV6 GT-Line

O que é que eu penso deste Kia EV6 GT-Line?

Primeiro, o estilo. É bom que se vão habituando, pois, esta será, mais ou menos, a linguagem de estilo da Kia. Depois, o carro acaba por ser muito mais que um estilo consensual. Tem mais carácter que o Hyundai Ioniq5, é muito melhor em termos de comportamento e eleva a fasquia para os modelos elétricos que não façam parte do patamar do Porsche Taycan. Apesar de algumas vicissitudes, é um carro onde dá gosto viver e viajar. 

Capaz de ser carregado de forma muito rápida: num carregador de 350 kW, dos 10 aos 80% bastam 18 minutos e 73 minutos se for num carregador de 50 kW. A autonomia é de 525 km, mas na vida real fica pelos 460 km. 

Depois, curva depressa, dá para nos divertirmos ao volante e é suficientemente rápido em qualquer situação. 

Enfim, boa autonomia, carregamento muito rápido, muito espaço, mas com conforto mediano, materiais abaixo do esperado e um preço acima de 55 mil euros, já com os 3 mil euros de campanha. Balanço final? Excelente! E por tudo isto se percebe porque é “Carro do Ano”. Para mim – não conheço o Porsche Taycan nem o Audi e-tron GT porque o Autoblogue não é digno de ensaiar esse tipo de carro – o Kia EV6 GT-Line é o melhor elétrico do momento.

Ficha técnica – Motor: elétrico síncrono de íman permanente; Potência máxima (CV): 229; Binário máximo (Nm): 350; Transmissão: traseira, relação única; Direção: Pinhão e cremalheira assistida eletricamente; Suspensão (ft/tr): independente tipo McPherson/Independente multibraços; Travões (fr/tr): Discos ventilados; Prestações e consumos Aceleração 0-100 km/h (s): 7,3; Velocidade máxima (km/h): 185; Consumos (kWh/100 km): 16,5; Dimensões e pesos Comp./Lar./Alt. (mm): 4680/1880/1550; Distância entre eixos (mm): 2900; Largura de vias (fr/tr mm): 1628/1637; Peso (kg): 2000; Capacidade da bagageira (l):490/1300; Capacidade da bateria (kWh): 77,4 (72,5 utilizáveis); Autonomia (km) 525; Pneus (fr/tr): 235/55 R19; Preço (Euros): 56.550

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