Ensaio Aiways U5: meia surpresa

Ensaio Aiways U5: meia surpresa

06/07/2022 0 Por Jose Manuel Costa
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O Aiways U5 é um automóvel 100% elétrico que vem da China e continua a não ser muito conhecido. O desconhecido é, habitualmente, desprezado. Mas como dizia a minha querida avó “nunca digas mal do que não conheces”. E por isso abracei livre de preconceitos o ensaio a este U5, um SUV que existe desde 2019 e que chega a Portugal pela mão da Astara. E já estarão todos a perguntar… afinal, vale alguma coisa este chinês? Mais do que se poderia pensar…

Rating: 3 out of 5.
  • A Favor – Habitabilidade, conforto, qualidade de acabamentos
  • Contra – Sistema multimédia, navegação (falta), ergonomia

Se já leu os “favor e contra” terá aberto a boca de espanto ao ver que está lá “qualidade de acabamentos”. Mais boquiaberto ficará quando ler isto: o U5 até nem é feio! Pronto, está dito!

Aiways U5: um estilo… interessante

À primeira vista, o Aiways U5 tem uma frente equilibrada e gira, destacando-se pela modernidade de uma frente que se destaca do carro. Depois… bom, depois as coisas tornam-se diferentes. Os flancos são normais sem grandes rasgos, destacando a “brincadeira” dos puxadores das portas saltarem para fora quando chegamos perto do carro. 

A traseira volta a ser interessante, mas o que está entre a frente e a traseira acaba por prejudicar o equilíbrio estilístico. Parece que a frente e a traseira foram dadas a uma parte do departamento de estilo e o meio do carro a outra equipa. Vai ganhar concursos de elegância? Nunca. É belo? Não! Mas pelo menos não choca. Quer a minha opinião? Há por aí coisas bem mais malvestidas… bem mais e não são chineses!

Dimensões generosas

O U5 tem um comprimento de 4,68 metros e uma altura de 1,70 metros. Mas o mais importante são os 2,8 metros de distância entre eixos. Pode ter a certeza que espaço a bordo não falta – até porque não há mecânica à frente – e quem viaja atrás tem muito espaço para arrumar as pernas.

Por outro lado, o acesso está muito bem pensado, particularmente, ao banco traseiro. As portas abrem num ângulo generoso e têm um tamanho igualmente generoso. Descontando os puxadores, o acesso é verdadeiramente fácil.

Interior espaçoso e bagageira ampla

Juntamente com isso vem uma bagageira com um volume entre 432 e 1555 litros, além de um “frunk”, espécie de pequeno compartimento de carga para arrumar todos os cabos e mais algumas coisas pequenas.

E se está a pensar que à frente não há espaço… engana-se. A Aiways prescindiu do porta luvas, pelo que o passageiro tem um oceano de espaço à sua frente. Não pense que isso o vai prejudicar, pois há dentro do U5 muitos, e bons, espaços de arrumação. Particularmente aquele que está dentro da consola central do Aiways.

Além disso há um tabuleiro sob o apoio central de braços, bolsas generosas nas portas dianteiras e traseiras. E para que ninguém fique triste há bandejas de cada lado do banco traseiro.

Da mesma forma, há um compartimento “secreto” que está por trás do painel de controlo da climatização – abre com um toque e tem amortecedor na abertura – que é perfeito para arrumar o telemóvel. Mas só mesmo o telefone, pois se quiser juntar a carteira a tampa não fecha.

Surpreendente qualidade

Eu disse que abracei este ensaio sem preconceito, mas de forma inconsciente lá fui à procura das rebarbas no plástico e das fraquezas nas montagens. Surpresa! Verdade que quase nada é de elevada qualidade. A cablagem está solta por baixo do tabliê junto aos pedais e da coluna de direção e o forro do tejadilho deixa que se coloque a mão dentro junto ao para brisas, o plástico que fecha a consola central na parte inferior é duro e algumas juntas são fraquinhas. 

Porém, descontando estas pequenas coisas e olhando ao preço de 43.037 euros (preço promocional) por um automóvel 100% elétrico, o U5 é uma bela oferta. E a verdade é que não há nada de verdadeiramente errado com o Aiways. 

Aiways U5 é… demasiado digital

Isto não quer dizer que o U5 não esteja opiparamente equipado. Há câmaras 360 graus e controlo automático da climatização, monitorização do ângulo morto e Bluetooth, cruise control adaptativo e faróis LED, reconhecimento de sinais de trânsitos e bancos dianteiros reguláveis eletricamente, jantes de 19 polegadas e estofos em pele, tejadilho panorâmico e portão traseiro elétrico, sensores de estacionamento à frente e atrás, estacionamento automático e carregador de smartphones por indução.

A Aiways utiliza uma câmara situada no pilar A para detetar sonolência no condutor (que pode ser regulada para avisar quando o condutor ou condutora está a fumar ou ao telefone e deixar esse comportamento perigoso) mas novas atualizações permitem que essa câmara seja usada para reconhecimento facial de forma a permitir ajustar as definições a cada condutor gravado. Poderá também ser usada para verificar se não ficou algo ou alguém no banco traseiro.

Funcionamento… automático

A utilização do U5 foi simplificada. Primeiro porque não é preciso dar à chave: carrega no pedal do travão, carrega do D e já está! Colocar em P desliga tudo quando saímos do carro. 

Em andamento, o U5 é um carro sem surpresas. Não será entusiasmante para quem gosta de carros com aspirações desportivas. As suas maiores virtudes residem no conforto e nas performances suficientes para o tipo de carro que é o U5. O facto de ter as baterias entre os dois eixos e por baixo do piso, oferece um baixo centro de gravidade e nas zonas mais degradadas o U5 só se desestabiliza quando o curso de suspensão se esgota e encosta nos batentes.

Enfim, até aqui parece que o Aiways U5 é um excelente automóvel cujos defeitos são poucos. Não é verdade.

Algumas coisas a rectificar

Em primeiro lugar, temos de referir os bancos. Podiam ser mais suaves e, sobretudo, maiores. A base do banco é estreita, dura e, em longos trajetos, desconfortável. Por outro lado, a direção não comunica connosco. Algo que é aceitável, pese embora haja algumas situações em que os sistemas de ajuda à condução nos surpreendem quando pensando (com ou sem razão) que estamos fora da faixa de rodagem.

Por outro lado, o U5 permite ajustar a regeneração de energia na travagem. Porém, a Aiways terá de trabalhar mais um pouco, porque das três posições, as duas mais agressivas (que quase chegam à função “one pedal” ou seja, travagem sem pedal de travão) tornam o acelerador difícil de gerir. No modo mais suave, roda livre, tudo se passa sem dificuldades. Porém, não regenerar tanta energia tem alguns problemas.

Primeiro, a autonomia dificilmente passa os 300 km registando um consumo acima dos 20 kWh/100 km. O que é uma enorme diferença para o que é anunciado.

Obviamente que com algum cuidado e utilizando a regeneração máxima, ultrapassamos os 300 km, mas nunca se consegue os 400 km anunciados.

O Aiways U5 permite fazer carregamento rápido até 90 kW, mas o carregado monofásico de 6,6 kW quer dizer que numa Wallbox são horas a perder de vista, sem falar das tomadas domésticas.

Ergonomia e… irritações!

Confesso que estava à espera de encontrar algumas… chinesices. Porém, antes de tudo, tenho de dizer que o Aiways U5 é um automóvel 100% elétrico que surpreende. Mesmo tendo começado sem preconceitos, tenho de dizer que o U5 me surpreendeu pela positiva.

Porém… há coisas que não lembram ao Diabo! Sabem onde está o botão para ligar os “quatro piscas”? Olhe para as fotos e veja de descobre. Para abrir o tejadilho também não é fácil. E depois temos de passar pelo ecrã sensível ao toque central para ligar as luzes interiores.

E já que falo no ecrã central… grande, porém, mal aproveitado. Colocou muita coisa na extrema direita que não faz… nada. Depois há poucos “widgets” e falta um sistema de navegação. Nem como opção. Pronto, está instalado o Apple CarPlay, mas não tem Android Auto. Por outro lado, é uma carga de trabalhos conseguir que o CarPlay funcione. Mas depois de algum esforço lá chegamos.

Depois temos o ecrã que funciona como painel de instrumentos. Tem mínima personalização, tudo é feito em letra pequenina e colocar a zero o conta quilómetros é outra aventura pois configurar o computador de bordo é… quase impossível. Mas há mais.

O rádio tem de ser ligado cada vez que entramos no carro. À mão. A função de “streaming” funciona bem, mas não há botão no volante e só podemos mudar de faixa através do ecrã central sensível ao toque. 

O que é que eu penso deste Aiways U5?

Sinceramente? Gostei. É verdade que as limitações de tecnologia e as irritações com a ergonomia e falta de sentido de algumas opções, poderiam deixar-me triste e desconfiado. Porém… isso não acontece. E nem sequer estou a descontar o facto de ser uma empresa neófita que está a fazer carros pela primeira vez. O U5 cumpre os objetivos propostos: oferecer um automóvel 100% elétrico familiar com muito espaço interior e uma autonomia razoável. Obviamente que se for muito exigente, vai encontrar falhas no U5 que o vão afastar. Mas se procura um carro 100% elétrico com um preço razoável, convido-o a ir dar uma vista de olhos ao Aiways U5.

Ficha técnica – Motor: elétrico síncrono de íman permanente; Potência máxima (CV): 204; Binário (Nm):310; Transmissão: tração dianteira com relação única; Direção: Pinhão e cremalheira assistida eletricamente; Suspensão (ft/tr): independente tipo McPherson/Independente multibraços; Travões (fr/tr):Discos ventilados/discos; Prestações e consumos Aceleração 0-100 km/h (s): 7,8; Velocidade máxima (km/h): 150; Consumos (kWh/100 km): 17; Dimensões e pesos Comp./Lar./Alt. (mm): 4680/1865/1700; Distância entre eixos (mm): 2800; Largura de vias (fr/tr mm): nd; Peso (kg): 1770; Capacidade da bagageira (l): 432 – 1555; Capacidade da bateria (kWh): 63; Pneus (fr/tr): 235/50 R19; Autonomia (l): 400; Preço (Euros): 43.037

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