
Ensaio Fiat Tipo Cross 1.0: racionalidade
18/07/2022O ensaio do Fiat Tipo Cross 1.0 levou-me ao arquivo da memória para encontrar o modelo original que se destacava por ser um recordista na habitabilidade. Curiosamente, este Fiat Tipo também o é, mas a reencarnação moderna tem muito mais qualidades que, hoje, são o “pão com manteiga” da casa italiana. E sim, há mais Fiat para lá do 500.
- A Favor – Preço, equipamento, habitabilidade, bagageira
- Contra – Detalhes de acabamento, alguns materiais, suspensão

O meu querido pai foi um dos defensores da Fiat. Em casa só havia carros da marca. E dedicou toda a sua vida de competente mecânico a trabalhar para a casa de Turim. Esteve, mesmo, envolvido nas presenças da Fiat no Rali de Portugal. Diz-se que os gostos dos pais moldam as escolhas dos filhos. Não sei se isso é uma verdade absoluta ou um mito, mas até tarde na minha vida os meus carros foram da marca… Fiat!
Tive o privilégio de apadrinhar várias apresentações de modelo da Fiat e tive um… Tipo! Mas dos originais, um modelo raro com motor 1.8 litros com carroçaria de cinco portas. Oferecido pelo meu querido pai depois de ter andado durante algum tempo de Fiat Uno. Enfim… bons tempos! Mas, voltemos ao ensaio do Tipo Cross.

Fiat Tipo Cross: renovado para melhor
Percebem, assim, que sempre que me proporcionam o ensaio de um Fiat e de um Tipo, há uma emoçãozinha. Mas fiquem tranquilos que não me retira a lucidez.
Bom, o Tipo é, hoje, um carro muito diferente.
Porém, tal como o original, destaca-se por um estilo… suave. Eu explico. O modelo original foi desenhado por Ercole Spada da I.DE.A Institute, o atual tem a assinatura do Centro Stile Fiat em Turim. Nenhum deles ganhará um concurso de elegância, mas ambos tem charme e o modelo mais recente acaba por ser agradável à vista.



Ao longe, o Tipo até tem uma presença que se destaca. E isso é cortesia da renovação estética que sofreu há um ano. A frente está “sorridente”, o nome da marca está em destaque e, nesta versão Cross, os arcos das rodas protegidas em plástico dão uma dimensão mais robusta.
As jantes de 17 polegadas e os 3,7 cm a mais na distância ao solo completam as mudanças face ao Tipo “normal”, pois nas laterais e na traseira ficou tudo mais oiu menos na mesma.

Um interior espaçoso na boa tradição da Fiat
Por outro lado, é sempre bom perceber que a Fiat está de regresso à sua base de ação, ou seja, oferecer um automóvel robusto, capaz e familiar.
Regresso ao Tipo dos anos 80 para lembrar a enorme distância entre eixos (2540 mm). Permitia que a habitabilidade fosse recordista para a época, num carro que tinha menos de quatro metros.
O Tipo tem quase 4,4 metros e uma distância entre eixos de 2638 mm. Ou seja, o modelo original reservou 64,2% do tamanho à habitabilidade, o novo Tipo reservou 60,4% do tamanho do carro para os ocupantes. Por aqui se vê como a Fiat continua a ser uma marca amiga das famílias. E tudo isto com as novas regras de absorção de energia em caso de embate e proteção dos ocupantes.
E na bagageira há 440 litros de capacidade apenas 90 litros a mais que no Tipo original. Que grande automóvel era o Tipo! Que espaçoso automóvel é, hoje, o Tipo.




Interior com qualidade suficiente
Já vou falar do equipamento, antes a qualidade. Procura um carro que o “engane” com plásticos fofinhos e com uma qualidade extraordinária? Então é seguir que não há aqui nada para ver.
O desenho do tabliê é simples, porém, impacta na minha sensibilidade. Gosto da forma como esta arrumado, gosto da existência de botões físicos – obrigado Fiat – para controlar muita coisa e gosto da ergonomia do interior.
O painel de instrumentos passou a ser digital e continua com excelente leitura e grafismos básicos que são… bonitos!
E até temos direito a um ecrã que parece flutuar por cima do tabliê mesmo no centro do carro. Tudo é fácil de utilizar e não precisamos de perder horas à procura da maneira de regular os faróis ou desligar o “start/stop”.
Os italianos não gostam de carros confortáveis. Foi me dito isso há uns anos. Acredito que não seja verdade. Porém, a verdade é que os bancos do Tipo estão muito bem desenhados e oferecem o apoio certo, mas são duros. Atrás são mais confortáveis, mas como não são “escavados” os mais altos podem ter ligeira dificuldade em ficar totalmente confortável.
Equipamento excelente e com poucos opcionais
Quanto ao equipamento, oferecido de série, a lista é grande. Do ar condicionado automático às jantes de 17 polegadas, do assistente de velocidade ao reconhecimento de sinais, aviso de transposição de faixa com correção e câmara de estacionamento traseiro, cruise control adaptativo e espelhos exteriores com regulação elétrica, faróis dianteiros LED e limitador de velocidade, sistema Uconnect Link com Apple CarPlay e Android Auto sem fios e vidros elétricos nas quatro portas, sensores de chuva, luz e fadiga e ecrã sensível ao toque com 7 polegadas com Bluetooth. Ufa!

Fiat Tipo Cross é um carro “pão com manteiga”
O Tipo Cross é um carro “à Fiat”, ou seja, sem “funfuns nem gaitinhas”. Prático, inteligente na forma como oferece espaço e equipamento e competente. Obviamente que se procura um carro refinado, confortável como um tapete voador e com aspirações a desportivo por 25.350 euros… está a bater à porta errada!
O Fiat Tipo Cross é um automóvel excelente para os percursos pendulares casa-trabalho e para ir até á praia nas férias. Não é carro que se destaque dos outros por um detalhe ou pormenor, mas acaba por fazer tudo bem. Ou pelo menos de forma suficiente.

Motorização com 100 CV a gasolina
O bloco de três cilindros com 1.0 litros de cilindrada tem 100 CV e 190 Nm de binário. Claramente é mais irrequieto que o esperado pelas cifras comunicadas. Está muito à vontade no trânsito citadino e quando vamos para fora do casco urbano, o Tipo surpreende.
Primeiro porque a insonorização é muito boa. Depois, porque as retomas da aceleração são muito interessantes, apesar de existir ali um fosso até às 2500 rpm que leva a alguma indecisão quando é preciso sair de uma curva mais otimista.
O Tipo Cross está mais longe do solo, mas isso não o impede de ser um carro agradável de conduzir, mesmo em curva.
É verdade que a direção não tem sensibilidade nenhuma, que a caixa de velocidade (típica Fiat) é teimosa e usada muito depressa as “arranhadelas” são inevitáveis e que a suspensão faz alguns barulhos e chega facilmente aos limitadores, mais ainda dá para andar depressa. Sem emoção e sem nos deixar “wow”, mas seguro e eficaz.
E sabe o que mais interessa? É que por 25.350 euros tem direito a um carro que se “despacha” de forma suficiente, bem insonorizado e que consome pouco.
Contas feitas, o ensaio acabou com uma média de 6,4 l/100 km com um pico de 7,2 l/100 km. Este atingido quando estava a tentar perceber os limites do Tipo Cross e não pensei nos consumos.




O que é que eu penso deste Fiat Tipo Cross?
Sou e serei sempre suspeito, mas também sempre escrevi que o Fiat Tipo foi dos melhores carros da Fiat nos últimos anos. E não, não é rival do Dacia Sandero porque tem mais qualidade e refinamento. É um carro que responde de forma capaz às necessidades de mobilidade primárias. Bem equipado, com charme nesta versão “arregaçada”, é polivalente e acaba por ser uma boa surpresa. E por 25.350 euros… Se acha muito, o Tipo 1.0 “normal” fica por 21.850€. Mas… não é a mesma coisa!
Ficha técnica Motor: 3 cilindros com injeção direta e turbo; Cilindrada (cc): 999; Potência máxima (CV/rpm): 100/5000; Binário máximo (Nm/rpm): 190/1500; Transmissão: dianteira, caixa manual de 6 velocidades; Direção: Pinhão e cremalheira assistida eletricamente; Suspensão (ft/tr): independente tipo McPherson/eixo de torção; Travões (fr/tr): Discos ventilados/tambores; Prestações e consumos Aceleração 0-100 km/h (s): 11,8; Velocidade máxima (km/h): 192; Consumos (l/100 km): 5,4; Emissões CO2 (gr/km): 124; Dimensões e pesos Comp./Lar./Alt. (mm): 4368/1792/1495; Distância entre eixos (mm): 2638; Largura de vias (fr/tr mm): 1542/1543; Peso (kg): 1240; Capacidade da bagageira (l): 440; Deposito de combustível (l): 50; Pneus (fr/tr): 205/45 R17; Preço da versão ensaiada (Euros): 25.350