
Mauro Forghieri morreu aos 87 anos
02/11/2022Mauro Forghieri pode dizer pouco ou nada aos recentes adeptos da Fórmula 1, mas para quem segue, fervorosamente, a Fórmula 1 desde há algumas décadas lembram o engenheiro brilhante, o homem que fez a Ferrari brilhar.
Mauro Forghieri nasceu no dia 13 de janeiro de 1935 em Modena, filho único de Reclus e Afra Forghieri. A Segunda Guerra Mundial privou-o da companhia do pai, requisitado para trabalhar no esforço de guerra em Nápoles.
O jovem Mauro andou a viver entre Népoles, Milão, Modena e Abbiategrasso. Após a guerra voltaram a Modena onde o pai foi trabalhar para a Ferrari em Maranello.
Mauro completou o Liceu e em 1959 recebeu a licenciatura (Laurea) em Engenharia mecânica da Universidade de Bolonha.

Mauro Forghieri queria aviões…
O brilhante aluno e engenheiro tinha uma paixão pelos aviões, mas na época um estágio na Ferrari era muito melhor e com a ajuda do pai entrou pela porta de Maranello na primavera de 1960.
Trabalhou com engenheiros como Vittorio Jano, Carlo Chitti e Luigi Bazzi, bem como com Romolo Tavoni, o diretor desportivo da Ferrari. Também esteve a trabalhar com Gian Paolo Dallara, outro brilhante engenheiro que se juntou à Ferrari depois de Forghieri.

“A Grande fuga” destacou Forghieri
Quando em 1961 vários engenheiros de topo da Ferrari decidiram abandonar Maranello para se juntar à equipa ATS Fórmula One de Gunter Schmid, Mauro Forghieri foi o único que ficou.
Não demorou muito tempo até Enzo Ferrari pedir a Mauro Forghieri para cuidar de tudo e, sobretudo, aos 27 anos, encontrar respostas para as dificuldades técnicas da equipa e da fábrica.
Com a ajuda de Franco Rocchi, Walter Salvarani e Angelo Belli, Forghieri levou o barco para diante e depressa passou a ser o diretor técnico da Scuderia Ferrari. Lugar onde esteve até… 1984! Depois de abandonar o cargo, começou a trabalhar no projeto Ferrari 408 4RM. Um carro de estrada com tração integral.


Mauro Forghieri criou o 4RM em 1985 que foi lançado em… 2011!
Um complexo sistema hidráulico denominado 4RM (Ruote Motrici) que acabaria por ver a luz do dia muito mais tarde no lançamento do Ferrari FF em 2011. O sistema utiliza uma segunda caixa de velocidades (a primeira é uma unidade de dupla embraiagem com 7 velocidades) com duas mudanças (2ª e 4ª) mais marcha-atrás. As relações são mais longas 6% que as da caixa normal e o sistema só está ativo em 1º e em 4º velocidade. As ligações são feitas através de embraiagens Haldex sem recurso a diferenciais. O carro tem tração integral, mas apenas 20% da potência vai para as rodas da frente e só funciona em situações mais exigentes.

O seu legado na Ferrari
Todos os carros de competição da Ferrari entre 1960 e 1987 tiveram maior ou menor grau de envolvimento de Mauro Forghieri.
Foi ele que desenvolveu o 250 GTO, o 275 GTB e o 330 LMB. Também saíram das suas mãos os carros de Sport Protótipo da série P como o 330 P4, um dos carros mais belos de sempre. Um automóvel criado por si!
Foi ele que desenhou o Ferrari V8 do Ferrari 158 que ganhou a F1 em 1964 com John Surtees. Foi este carro que utilizou, pela primeira vez, o alumínio para a construção do chassis de F1 da Ferrari.
Foi Mauro Forghieri quem introduziu a primeira asa traseira num F1 no Grande Prémio da Bélgica de 1968 (eram pilotos da Ferrari Jacky Ickx e Chris Amon) e foi ele quem desenhou a primeira caixa de velocidades transversal (conhecida como T Box). Deve-se a Mauro Forghieri o primeiro motor turbo da Ferrari.
Com ele ao leme da Ferrari, a casa de Maranello ganhou quatro títulos de pilotos – John Surtees (1964), Niki Lauda (1975 e 1977) e Jody Scheckter (1979) – e oito títulos de construtores, ou seja, metade dos conquistados pela Ferrari.

Abandono da Ferrari e passagem pela Lamborghini e Bugatti
Mauro Forghieri abandonou, definitivamente, a Ferrari na primavera de 1987 e em setembro estava a trabalhar na Lamborghini Engineering. Na época a casa de Sant’Agara Bolognese estava nas mãos da Chrysler.
Na companhia de Daniele Audeto (ex-Ferrari), Forghieri desenhou o motor Lamborghini V12 atmosférico para a F1 que se estreou no GP do Brasil de 1989. O motor foi usado pela Larrousse Lola e pela Lotus no 102 de 1990.
Depois, Mauro Forghieri envolveu-se no projeto GLAS. Financiado pelo mexicano Fernando Gonzalez Luna (o nome GLAS queria dizer Gonzales Luna Associates) tinha como objetivo fazer uma equipa de F1 com motor e chassis feitos em casa.
O italiano desenhou as suspensões e a transmissão, o chassis por Mario Tolentino.
Tudo pronto para a estreia quando Fernando Gonzalez fugiu com o dinheiro angariado dos patrocinadores! A equipa foi comprada por Carlo Petrucco em julho de 1990.
Nascia, assim, a Modena Team, ou Lambo Team. Finalmente o carro da dupla Forghieri – Tolentino estreou-se como Lambo 291 no GP dos EUA de 1991.

Nesse mesmo ano, a Chrysler reorganizou o departamento e deu a liderança a Mike Royce, despejando Mauro Forghieri que, em 1992, entra para a Bugatti, acabada de renascer, como diretor técnico. Esteve por lá dois anos onde esteve na liderança do desenvolvimento do EB110 e EB112.

Mauro Forghieri morreu aos 87 anos
O brilhante engenheiro que Enzo Ferrari adorava, foi chamado a depor no processo do acidente de Ayrton Senna no GP de San Marino 1994, em Imola, que levaria à morte do brasileiro. Foi como um dos mais respeitados engenheiros para dar a sua opinião sobre os acontecimentos.
Lúcido e mantendo a sua forma descomplicada de ver as coisas, Mauro Forghieri criou, em 1995, a Oral Engineering Group na companhia de Franco Antoniazzi e Sergio Lugli. Forghieri manteve-se ativo até perto da sua morte esta quarta-feira. Clientes da Oral são a BMW, Bugatti e Aprilia, que beneficiam das valências da empresa na área do design, pesquisa e desenvolvimento automóvel, motos e barcos e desenvolvimento de componentes.
Esteve, também, envolvido no Project 1221 (2005), que iria desenvolver um novo carro desportivo animado por uma turbina a gás com zero emissões feita pela Williams Engineering.
Desaparece um dos mais brilhantes génios da engenharia automóvel e um homem que muito deu à Ferrari. Descanse em paz!